Você tem alguém em um asilo?

Momento de Reflexão

A minha fé mais profunda é que podemos mudar o mundo pela verdade e pelo amor."

Mahatma Gandhi

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A Dor do Abandono

Era uma manhã de sol quente e céu azul quando o humilde caixão contendo um corpo sem vida foi baixado à sepultura.

De quem se trata? Quase ninguém sabe.

Muita gente acompanhando o féretro? Não. Apenas umas poucas pessoas.

Ninguém chora. Ninguém sentirá a falta dela. Ninguém para dizer adeus ou até breve.

Logo depois que o corpo desocupou o quarto singelo do asilo, onde aquela mulher havia passado boa parte da sua vida, a moça responsável pela limpeza encontrou em uma gaveta ao lado da cama, algumas anotações.

Eram anotações sobre a dor...

Sobre a dor que alguém sentiu por ter sido abandonada pela família num lar para idosos...

Talvez o sofrimento fosse muito maior, mas as palavras só permitem extravasar uma parte desse sentimento, grafado em algumas frases:

Onde andarão meus filhos?

Aquelas crianças ridentes que embalei em meu colo, alimentei com meu leite, cuidei com tanto desvelo, onde estarão?

Estarão tão ocupadas, talvez, que não possam me visitar, ao menos para dizer olá, mamãe?

Ah! Se eles soubessem como é triste sentir a dor do abandono... A mais deprimente solidão...

Se ao menos eu pudesse andar... Mas dependo das mãos generosas dessas moças que me levam todos os dias para tomar sol no jardim... Jardim que já conheço como a palma da minha mão.

Os anos passam e meus filhos não entram por aquela porta, de braços abertos, para me envolver com carinho...

Os dias passam... e com eles a esperança se vai...

No começo, a esperança me alimentava, ou eu a alimentava, não sei...

Mas, agora... como esquecer que fui esquecida?

Como engolir esse nó que teima em ficar em minha garganta, dia após dia?

Todas as lágrimas que chorei não foram suficientes para desfaze-lo.

Sinto que o crepúsculo desta existência se aproxima...

Queria saber dos meus filhos... dos meus netos...

Será que ao menos se lembram de mim?

A esperança, agora, parece estar atrelada aos minutos... que a arrastam sem misericórdia... para longe de mim.

Às vezes, em meus sonhos, vejo um lindo jardim...

É um jardim diferente, que transcende os muros deste albergue e se abre em caminhos floridos que levam a outra realidade, onde braços afetuosos me esperam com amor e alegria...

Mas, quando eu acordo, é a minha realidade que eu vejo... que eu vivo... que eu sinto...

Um dia alguém me disse que a vida não se acaba num túmulo escuro e silencioso. E esse alguém voltou para provar isso, mesmo depois de ter sido crucificado e sepultado...

E essa é a única esperança que me resta...

Sinto que a minha hora está chegando...

Depois que eu partir, gostaria que alguém encontrasse essas minhas anotações e as divulgasse.

E que elas pudessem tocar os corações dos filhos que internam seus pais em asilos, e jamais os visitam...

Que eles possam saber um pouco sobre a dor de alguém que sente o que é ser abandonado...

A data assinalada ao final da última anotação, foi a data em que aquela mãe, esquecida e só, partiu para outra realidade.

Talvez tenha seguido para aquele jardim dos seus sonhos, onde jovens afetuosos e gentis a conduzem pelos caminhos floridos, como filhos dedicados, diferentes daqueles que um dia ela embalou nos braços, enquanto estava na terra.

Comments

  • Surpreendente essa sua escolha, Wilson!

    Bonita dissertação!

    Contudo, é a realidade, triste realidade dos nossos velhos e velhas, anônimos esquecidos em asilos, padecendo dores físicas, morais, no abandono em vida, pelos entes que ajudaram a crescer, a ser!

    Não, consoante a sua pergunta, não tenho nenhum velho meu em asilo!

    Aliás, são falecidos!

    Peço desculpas ao Sr. meu pai, mas, se ele vivo fosse, (teria 88 anos de idade), teria eu o máximo prazer em tê-lo comigo, em carregá-lo no colo, em protegê-lo, como ele me protegeu; aliás, o amor que tenho pelos os meus filhos, com ele aprendi! (Papai era "brabo", porém desconfio, hoje, que era uma "capa" de brabeza!).

    Tenho cereteza de que o meu "velho querido" sabe, sente o amor que tenho por ele!

    Porém o texto que você escreveu é muito bonito; tanto que o copiei, e mandarei para os meus amigos!

    Parabéns, meu jovem, pela sua sensibilidade!

    Esteja com Deus!

    Odoval.

  • NÃO!!!!!!!!Meu pai viveu 81 anos. Ele era diabético e sofreu muito durante anos. Nós somos 7 filhos e nunca deixamos nosso pai escorregar sequer. Cuidamos dele com muito amor, com a fiel obrigação que um filho tem de cuidar de um pai.Aprendemos tudo sobre diabetes, a aplicar insulina, a verificar glicose;sabíamos todos os sintomas da hiper e da hipoglicemia.Corríamos com ele para o hospital a que horas fosse. Nunca deixamos que nada faltasse a ele. E não fizemos nada mais do que a nossa obrigação, nosso dever.Quando ele nos deixou, ficamos em paz, com a consciência de que fizemos tudo o que era possível.Hoje temos mamãe que tem 81 anos e sofre de alzheimer.Cuidamos dela como se fosse de uma boneca. Ela é limpinha, cheirosa, tem todo o conforto e amor que deveria e teria direito na velhice.E assim é a vida. Fazemos tudo por amor, mas para quem não sabe isso é dever filial, está na lei que o filho tem de cuidar do pai na velhice. Abraços!

  • Graças a DEUS não !

  • Tenho a minha sogra. Mas ela mora na Suíça e lá é diferente. Os pais idosos a si mesmo se prontificam a ir para o asilo quando percebem que já não podem tomar conta de si.

    Lá eles tem contatos com pessoas da mesma idade, cuidados médicos e terapias lúdicas.

    Quando ainda podem se cuidar, também não moram com os filhos. Vivem sozinhos num apartamento proprio pra idosos, onde há um sindico(a) enfermeiro(a).

    Aqui mesmo em Blumenau-SC, onde vivo, conheço muitos idosos morando sozinhos. Ao contrário de se sentirem sós,estão sempre bem acompanhados com sua turma e nas atividades diárias no seu grupo.

  • Que texto triste...

    Jamais abandonaria minha mãe...

  • Não,

    Meus parente mais velhos moram com a familia mesmo

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