A Guerra dos camponeses (1524-1525) foi de muitas maneiras uma resposta aos discursos de Lutero e de outros reformadores. Revoltas Por causa dos fortes laços entre a nobreza hereditária e os líderes da Igreja que Lutero condenava, isto não seria surpreendente.
Já em 1522, enquanto Lutero estava em Wartburg, colaboradores seus perverteram seus ensinamentos e passaram a pregar mensagens revolucionárias por toda a Alemanha. Enfatizava-se a formação de um grupo de “santos”, com a tarefa de lutar contra a autoridade constituída e promover a aniquilação dos “ímpios”. Um desses pregadores foi Tomas Müntzer.
A mensagem escatológica de Müntzer, na verdade, tinha pouco a ver com a proposta dos camponeses, tanto que ele procurou a nobreza da Saxônia para obter apoio. Com a negativa destes e a eclosão dos conflitos camponeses no sudoeste alemão, ele logo viu o instrumento para a concretização de seus planos.
Lutero desde cedo prevenira a nobreza e os próprios camponeses sobre a revolta e particularmente sobre Müntzer, um dos “profetas do assassínio”, colocando-o como um dos mentores do movimento camponês. Lutero escreveu a Terrível História e Juízo de Deus sobre Tomas Müntzer, inaugurando essa linha de pensamento.
Na iminência da revolta (1524), Lutero escreveu a Carta aos Príncipes da Saxônia sobre o Espírito Revoltoso, mostrando a tirania dos nobres que oprimiam o povo e a loucura dos camponeses em reagir através da força e a confiar em Müntzer como pregador. Houve pouca repercussão deste escrito.
Ainda em 1524, Müntzer mudou-se para a cidade imperial de Mühlhausen, oferecendo-se como pregador. Lutero escreveu a Carta Aberta aos Burgomestres, Conselho e toda a Comunidade da Cidade de Mühlhausen com o propósito de alertar sobre as intenções de Müntzer. Também este escrito não teve repercussão, pois o conselho da cidade limitou-se a pedir informações sobre Müntzer na cidade imperial de Weimar.
O principal escrito dos camponeses eram os Doze Artigos, onde as reinvidicações foram expostas. Neles haviam artigos de fundo teológico (direito de ouvir o Evangelho através de pregadores chamados por eles próprios) e artigos que tratavam dos maus tratos (exploração nos impostos, etc.). Os artigos eram fundamentados com passagens bíblicas e pedia-se que se alguém pudesse provar pelas Escrituras que aquelas reinvidicações eram injustas, eles as abandonariam, e entre aqueles que se consideravam dignos de fazer tal coisa estava o nome de Lutero.
De fato Lutero escreveu sobre os Doze artigos em seu livro Exortação à Paz: Resposta aos Doze artigos do Campesinato da Suábia, de 1525. Nele Lutero ataca os príncipes e senhores por cometerem injustiças contra os camponeses e ataca os camponeses pela rebelião e desrespeito à autoridade.
Infelizmente também esse escrito não teve repercussão e durante uma viagem de Lutero pela região da Turíngia ele pôde testemunhar as atrocidades cometidas pelos camponeses, motivando-o a escrever o Adendo: Contra as Hordas Salteadoras e Assassinas dos Camponeses. Tratava-se de um apêndice de Exortação à Paz..., mas cedo tornou-se um livro separado. O Adendo foi publicado quando a revolta camponesa já estava na final e os príncipes cometiam atrocidades contra os camponeses derrotados, de modo que o escrito causou grande revolta na opinião pública contra Lutero. Nele, Lutero encoraja os príncipes a castigar os camponeses, até com a morte.
Tal repercussão negativa obrigou Lutero a pregar um sermão no dia de pentecostes de 1525 que tornou-se o livro Posicionamento do Dr. Martinho Lutero Sobre o Livrinho Contra os Camponeses Assaltantes e Assassinos, onde o reformador contesta os críticos e reafirma sua posição anterior.
Como ainda havia repercussão negativa, Lutero novamente se posiciona sobre a questão no seu Carta Aberta a Respeito do Rigoroso Livrinho Contra os Camponeses, onde lamenta e exorta contra a crueldade que estava sendo praticada pelos príncipes mas reafirma sua posição anterior.
Por fim, a pedido de um amigo, o cavaleiro Assa von Kram, Lutero redigiu Acerca da Questão, Se Também Militares Ocupam uma Função Bem-Aventurada, em 1526, com o propósito de esclarecer questões sobre consciência do cristão em caso de guerra e sua função como militar.
Ao que Lutero replicou: “Eu não teria escutado Thomas Munzer, mesmo que ele tivesse engolido o EspÃrito Santo, as penas e tudo mais!”. Lindberg identifica a principal diferença teológica entre os dois. Na teologia de Munzer,
O papa Leão X, no centro, em pintura de Rafael Sanzio, de 1518. Durante o seu papado (1483 - 1520) surgiu o movimento reformista, que levaria à divisão do Cristianismo na Europa (Galeria delli Uffizi, Florença)
Moralmente, a Igreja estava em decadência: preocupava-se mais com as questões polÃticas e econômicas do que com as questões religiosas. Para aumentar ainda mais suas riquezas, a Igreja recorria a qualquer subterfúgio, como, por exemplo, a venda de cargos eclesiásticos, venda de relÃquias e, principalmente, a venda das famosas indulgências, que foram a causa imediata da crÃtica de Lutero. O papado garantia que cada cristão pecador poderia comprar o perdão da Igreja.
A formação das monarquias nacionais trouxe consigo um sentimento de nacionalidade à s pessoas que habitavam uma mesma região, sentimento este desconhecido na Europa feudal, Esse fato motivou o declÃnio da autoridade papal, pois o rei e a nação passaram a ser mais importantes.
A doutrina protestante, criada pela Reforma, satisfazia plenamente os anseios desta nova classe, pois pregava o acúmulo de capital como forma de obtenção do paraÃso celestial. Assim, grande parte da burguesia, ligada à s atividades lucrativas, aderiu ao movimento reformista.
A igreja católica alemã era muito rica. Seus maiores domÃnios se localizavam à s margens do Reno, chamadas de “caminho do clero”, e eram estes territórios alemães que mais impostos rendiam à Igreja.
A Igreja era sempre associada a tudo que estivesse ligado ao feudalismo. Por isso, a burguesia via a Igreja como inimiga. Seus anseios eram por uma Igreja que gastasse menos, que absorvesse menos impostos e, principalmente, que não condenasse a prática de ganhar dinheiro.
Os senhores feudais alemães estavam interessados nas imensas propriedades da Igreja e do clero alemão.
Os pobres identificavam a Igreja com o sistema que os oprimia: o feudalismo. Isto porque ela representava mais um senhor feudal, a quem deviam muitos impostos.
Comments
ai esta
A Guerra dos camponeses (1524-1525) foi de muitas maneiras uma resposta aos discursos de Lutero e de outros reformadores. Revoltas Por causa dos fortes laços entre a nobreza hereditária e os líderes da Igreja que Lutero condenava, isto não seria surpreendente.
Já em 1522, enquanto Lutero estava em Wartburg, colaboradores seus perverteram seus ensinamentos e passaram a pregar mensagens revolucionárias por toda a Alemanha. Enfatizava-se a formação de um grupo de “santos”, com a tarefa de lutar contra a autoridade constituída e promover a aniquilação dos “ímpios”. Um desses pregadores foi Tomas Müntzer.
A mensagem escatológica de Müntzer, na verdade, tinha pouco a ver com a proposta dos camponeses, tanto que ele procurou a nobreza da Saxônia para obter apoio. Com a negativa destes e a eclosão dos conflitos camponeses no sudoeste alemão, ele logo viu o instrumento para a concretização de seus planos.
Lutero desde cedo prevenira a nobreza e os próprios camponeses sobre a revolta e particularmente sobre Müntzer, um dos “profetas do assassínio”, colocando-o como um dos mentores do movimento camponês. Lutero escreveu a Terrível História e Juízo de Deus sobre Tomas Müntzer, inaugurando essa linha de pensamento.
Na iminência da revolta (1524), Lutero escreveu a Carta aos Príncipes da Saxônia sobre o Espírito Revoltoso, mostrando a tirania dos nobres que oprimiam o povo e a loucura dos camponeses em reagir através da força e a confiar em Müntzer como pregador. Houve pouca repercussão deste escrito.
Ainda em 1524, Müntzer mudou-se para a cidade imperial de Mühlhausen, oferecendo-se como pregador. Lutero escreveu a Carta Aberta aos Burgomestres, Conselho e toda a Comunidade da Cidade de Mühlhausen com o propósito de alertar sobre as intenções de Müntzer. Também este escrito não teve repercussão, pois o conselho da cidade limitou-se a pedir informações sobre Müntzer na cidade imperial de Weimar.
O principal escrito dos camponeses eram os Doze Artigos, onde as reinvidicações foram expostas. Neles haviam artigos de fundo teológico (direito de ouvir o Evangelho através de pregadores chamados por eles próprios) e artigos que tratavam dos maus tratos (exploração nos impostos, etc.). Os artigos eram fundamentados com passagens bíblicas e pedia-se que se alguém pudesse provar pelas Escrituras que aquelas reinvidicações eram injustas, eles as abandonariam, e entre aqueles que se consideravam dignos de fazer tal coisa estava o nome de Lutero.
De fato Lutero escreveu sobre os Doze artigos em seu livro Exortação à Paz: Resposta aos Doze artigos do Campesinato da Suábia, de 1525. Nele Lutero ataca os príncipes e senhores por cometerem injustiças contra os camponeses e ataca os camponeses pela rebelião e desrespeito à autoridade.
Infelizmente também esse escrito não teve repercussão e durante uma viagem de Lutero pela região da Turíngia ele pôde testemunhar as atrocidades cometidas pelos camponeses, motivando-o a escrever o Adendo: Contra as Hordas Salteadoras e Assassinas dos Camponeses. Tratava-se de um apêndice de Exortação à Paz..., mas cedo tornou-se um livro separado. O Adendo foi publicado quando a revolta camponesa já estava na final e os príncipes cometiam atrocidades contra os camponeses derrotados, de modo que o escrito causou grande revolta na opinião pública contra Lutero. Nele, Lutero encoraja os príncipes a castigar os camponeses, até com a morte.
Tal repercussão negativa obrigou Lutero a pregar um sermão no dia de pentecostes de 1525 que tornou-se o livro Posicionamento do Dr. Martinho Lutero Sobre o Livrinho Contra os Camponeses Assaltantes e Assassinos, onde o reformador contesta os críticos e reafirma sua posição anterior.
Como ainda havia repercussão negativa, Lutero novamente se posiciona sobre a questão no seu Carta Aberta a Respeito do Rigoroso Livrinho Contra os Camponeses, onde lamenta e exorta contra a crueldade que estava sendo praticada pelos príncipes mas reafirma sua posição anterior.
Por fim, a pedido de um amigo, o cavaleiro Assa von Kram, Lutero redigiu Acerca da Questão, Se Também Militares Ocupam uma Função Bem-Aventurada, em 1526, com o propósito de esclarecer questões sobre consciência do cristão em caso de guerra e sua função como militar.
Ao que Lutero replicou: “Eu não teria escutado Thomas Munzer, mesmo que ele tivesse engolido o EspÃrito Santo, as penas e tudo mais!”. Lindberg identifica a principal diferença teológica entre os dois. Na teologia de Munzer,
...
No século XVI a Europa foi abalada por uma série de movimentos religiosos que contestavam abertamente os dogmas da igreja católica e a autoridade do papa. Estes movimentos, conhecidos genericamente como Reforma, foram sem dúvida de cunho religioso. No entanto, estavam ocorrendo ao mesmo tempo que as mudanças na economia européia, juntamente com a ascensão da burguesia. Por isso, algumas correntes do movimento reformista se adequavam à s necessidades religiosas da burguesia, ao valorizar o homem “empreendedor” e ao justificar a busca do “lucro”, sempre condenado pela igreja católica.
Os fatores que desenvadearam a Reforma.
Uma das causas importantes da Reforma foi o humanismo evangelista, crÃtico da Igreja da época. A Igreja havia se afastado muito de suas origens e de seus ensinamentos, como pobreza, simplicidade, sofrimento. No século XVI, o catolicismo era uma religião de pompa, luxo e ociosidade. Surgiram crÃticas em livros como o Elogio da Loucura (1509), de Erasmo de Rotterdam, que se transformaram na base para que Martinho Lutero efetivasse o rompimento com a igreja católica.
O papa Leão X, no centro, em pintura de Rafael Sanzio, de 1518. Durante o seu papado (1483 - 1520) surgiu o movimento reformista, que levaria à divisão do Cristianismo na Europa (Galeria delli Uffizi, Florença)
Moralmente, a Igreja estava em decadência: preocupava-se mais com as questões polÃticas e econômicas do que com as questões religiosas. Para aumentar ainda mais suas riquezas, a Igreja recorria a qualquer subterfúgio, como, por exemplo, a venda de cargos eclesiásticos, venda de relÃquias e, principalmente, a venda das famosas indulgências, que foram a causa imediata da crÃtica de Lutero. O papado garantia que cada cristão pecador poderia comprar o perdão da Igreja.
A formação das monarquias nacionais trouxe consigo um sentimento de nacionalidade à s pessoas que habitavam uma mesma região, sentimento este desconhecido na Europa feudal, Esse fato motivou o declÃnio da autoridade papal, pois o rei e a nação passaram a ser mais importantes.
Outro fator muito importante, ligado ao anterior, foi a ascensão da burguesia, que, além do papel decisivo que representou na formação das monarquias nacionais e no pensamento humanista, foi fundamental na Reforma religiosa. Ora, na ideologia católica, a única forma de riqueza era a terra; o dinheiro, o comércio e as atividades bancárias eram práticas pecaminosas; trabalhar pela obtenção do lucro, que é a essência do capital, era pecado. A burguesia precisava, portanto, de uma nova religião, que justificasse seu amor pelo dinheiro e incentivasse as atividades ligadas ao comércio.
A doutrina protestante, criada pela Reforma, satisfazia plenamente os anseios desta nova classe, pois pregava o acúmulo de capital como forma de obtenção do paraÃso celestial. Assim, grande parte da burguesia, ligada à s atividades lucrativas, aderiu ao movimento reformista.
Por que a Reforma começou na Alemanha?
No século XVI, a Alemanha não era um Estado politicamente centralizado. A nobreza era tão independente que cunhava moedas, fazia a justiça e recolhia impostos em suas propriedades. Para complementar sua riqueza, saqueava nas rotas comerciais, expropriando os mercadores e camponeses.
A burguesia alemã, comparada à dos paÃses da Europa, era débil: os comerciantes e banqueiros mais poderosos estabeleciam-se no sul, à s margens do Reno e do Danúbio, por onde passavam as principais rotas comerciais; as atividades econômicas da região eram a exportação de vidro, de metais e a “indústria” do papel; mas o setor mais forte da burguesia era o usurário.
Quem se opunha à igreja na Alemanha.
A igreja católica alemã era muito rica. Seus maiores domÃnios se localizavam à s margens do Reno, chamadas de “caminho do clero”, e eram estes territórios alemães que mais impostos rendiam à Igreja.
A Igreja era sempre associada a tudo que estivesse ligado ao feudalismo. Por isso, a burguesia via a Igreja como inimiga. Seus anseios eram por uma Igreja que gastasse menos, que absorvesse menos impostos e, principalmente, que não condenasse a prática de ganhar dinheiro.
Os senhores feudais alemães estavam interessados nas imensas propriedades da Igreja e do clero alemão.
Os pobres identificavam a Igreja com o sistema que os oprimia: o feudalismo. Isto porque ela representava mais um senhor feudal, a quem deviam muitos impostos.
Ãs vésperas da Reforma, a luta de classes e polÃtica acabou assumindo uma forma religiosa. "1
Fonte:
1 - PEDRO, Antonio, 1942 - História: Compacto, 2º Grau / Antonio Pedro,. - Ed. Atual., ampl. e renovada. São Paulo: FTD, 1995.
(caso você queira comprar esse livro, clique aqui)
nem sei quem eh thomas munzer