Em seu romance Xadrez, Truco e Outras Guerras, Torero nos fala de um dos pecados mais cometidos ao longo da história da humanidade: a ira. Torero nos absolve, no entanto, de parte deste mal. Inspirando-se livremente na Guerra do Paraguai, ele mostra que grandes e pequenas iras nem sempre constituem pecados - algumas vezes, são virtudes.
Com um texto ao mesmo tempo direto e requintado, o autor lança mão de instigante arquitetura literária, em que, como nos jogos de tabuleiro, as peças vão-se combinando ao longo da leitura.
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Ja responderam corretamente.
abraços
Uma guerra é o cenário ideal para se discorrer sobre o pecado da Ira. Desencadeada por um rei, por ambição e vaidade, a guerra será travada pelos simples soldados, estes sim movidos pela ira.
Em seu romance Xadrez, Truco e Outras Guerras, Torero nos fala de um dos pecados mais cometidos ao longo da história da humanidade: a ira. Torero nos absolve, no entanto, de parte deste mal. Inspirando-se livremente na Guerra do Paraguai, ele mostra que grandes e pequenas iras nem sempre constituem pecados - algumas vezes, são virtudes.
Torero leva o leitor a conhecer cada instante da guerra - das artimanhas dos bastidores à violência do campo de batalha; dos atos heróicos às paixões clandestinas. Uma guerra não se constrói apenas com atos corajosos. Há paixões mesquinhas. Gestos infames. Feitos inglórios. Há covardia, medo, mortes. Há até mesmo amor.
Com um texto ao mesmo tempo direto e requintado, o autor lança mão de instigante arquitetura literária, em que, como nos jogos de tabuleiro, as peças vão-se combinando ao longo da leitura.
Xadrez, Truco e Outras Guerras é basicamente um romance sobre o pecado da ira, ocupando essa posição na Coleção Plenos Pecados, que traz um romance para cada pecado capital. Livremente inspirado na guerra do Paraguai, o enredo apresenta um momento polÃtico delicado: O Rei e o Diplomata jogam truco e debatem sobre que atitudes a nação deve adotar contra o Ditador, governante de um paÃs vizinho. Recentemente as forças do Ditador se apoderaram de uma de nossas pequenas cidades na fronteira. Ambos, o Rei e o Diplomata, parecem concordar que, sendo as forças nacionais maiores e mais equipadas que as do Ditador, os vizinhos provavelmente aceitariam qualquer tipo de acordo e a devolução da cidade tomada, mas sua Majestade acredita que o povo ficaria mais impressionado com uma guerra e parte para ela “não por ira aos invasores, mas por amor ao poder”. Nesse momento, é-nos apresentado nosso protagonista: o Soldado, “Um homem comum, nascido de pais analfabetos, sem nada que o distinga, seja tique, mania, trejeito,cicatriz, tatuagem, ou mesmo uma simples verruga”. No meio de tantos homens e tão poucas mulheres ele então conhece sua musa e apaixona-se por ela, a Mulher das Cartas, que trabalha escrevendo e enviando cartas para o exército em marcha; e esse amor o motivará através dos episódios e das batalhas sem sentido. Em sua essência, Xadrez, Truco e OutrasGuerras é um profundo elogio aos homens comuns que lutaram essa e todas as demais guerras para as quais os poderosos vão por cobiça, por vaidade, por sede de poder, mas quase nunca por ira aos inimigos, de modo que a frente de batalha se compõe de homens que não querem morrer e nem mesmo matar, homens que não compreendem o sentido da luta. Assim,o Soldado, vendo-se no meio de toda aquela miséria, fumaça, sangue,morte e desespero; tendo que lutar pela própria vida e vendo companheiros caÃrem ao seu lado na batalha, sem entender o que faz ali, perde o controle de si mesmo e lança-se contra os inimigos pela primeira vez totalmente tomado da ira. “Talvez pensasse em libertar a pátria, talvez em vingar os amigos, talvez em viver um futuro feliz ao lado da Mulher das Cartas, ou talvez não pensasse em nada”.