Diz que foram os próprios americanos que as explodiram só pra achar motivo de briga com o Afeganistão. Essa crise que está havendo lá é castigo de Alá.
João tomou banho, jantou e foi deitar. Maria ficou na sala vendo televisão. Ali pelas nove bateram na porta. Do quarto, João, que ainda não dormira, deu um gemido. Maria, que já estava de camisola, entrou no quarto para pegar seu robe-de-chambre. João sugeriu que ela não abrisse a porta. Naquela hora só podia ser um chato. Ele teria que sair da cama. Que deixasse bater. Maria concordou. Não abriu a porta.
Meia hora depois, tocou o telefone, acordando João. Maria atendeu. Era LuÃsa querendo saber o que tinha acontecido.
Mas LuÃsa já tinha desligado. João e Maria se entreolharam. E agora? Não podiam receber Pedro e LuÃsa. Como explicar a ausência das pintas vermelhas?
- Eles iam desconfiar. Acho que já estão desconfiados. à por isso que vem para cá. A LuÃsa não acreditou em nenhuma palavra que eu disse.Decidiram apagar todas as luzes do apartamento e botar um bilhete na porta. João ditou o bilhete para Maria escrever.
Deixaram o bilhete preso na porta. Apertaram o botão do elevador. O elevador já estava subindo. Eram eles!
- Pela escada, depressa!
O carro de Pedro estava barrando a saÃda da garagem do edifÃcio. Não podiam usar o carro. Demoraram para conseguir um táxi. Quando chegaram ao escritório de João, que perdeu mais tempo explicando ao porteiro a sua presença ali no meio da noite, o telefone já estava tocando. Maria apertou o nariz para disfarçar a voz e atendeu:
- ClÃnica Rochedo."Rochedo?!" espantou-se João, que se atirara, ofegante, numa poltrona.
- Um momentinho, por favor - disse Maria.
Tapou o fone e disse para João que era LuÃsa. Que mulherzinha! O que a gente faz para preservar uma amizade. E não passar por mentiroso. Maria voltou ao telefone.
- O Sr. João está no quarto 17, mas não pode receber visitas. Sua senhora?
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Diz que foram os próprios americanos que as explodiram só pra achar motivo de briga com o Afeganistão. Essa crise que está havendo lá é castigo de Alá.
O texto a seguir é uma crônica de VerÃssimo que mostra o quanto é difÃcil sustentar uma mentira..
A Mentira
João chegou em casa cansado e disse para a mulher, Maria, que queria tomar um banho, jantar e ir direto para a cama. Maria lembrou a João que naquela noite eles tinham ficado de jantar na casa de Pedro e LuÃsa. João deu um tapa na testa, disse um palavrão e declarou que de maneira nenhuma, não iria jantar na casa de ninguém. Maria disse que o jantar estava marcado há uma semana e seria uma falta de consideração com Pedro e LuÃsa, que afinal eram seus amigos, deixar de ir. João reafirmou que não ia. Encarregou Maria de telefonar para LuÃsa e dar uma desculpa qualquer. Que marcassem o jantar para a noite seguinte.
Maria telefonou para LuÃsa e disse que João chegara em casa muito abatido, até com um pouco de febre, e que ela achava melhor não tirá-lo de casa naquela noite. LuÃsa disse que era uma pena, que tinha preparado uma Blanquette de Veau que era uma beleza, mas que tudo bem. Importante é a saúde e é bom não facilitar. Marcaram o jantar para a noite seguinte, se João estivesse melhor.
João tomou banho, jantou e foi deitar. Maria ficou na sala vendo televisão. Ali pelas nove bateram na porta. Do quarto, João, que ainda não dormira, deu um gemido. Maria, que já estava de camisola, entrou no quarto para pegar seu robe-de-chambre. João sugeriu que ela não abrisse a porta. Naquela hora só podia ser um chato. Ele teria que sair da cama. Que deixasse bater. Maria concordou. Não abriu a porta.
Meia hora depois, tocou o telefone, acordando João. Maria atendeu. Era LuÃsa querendo saber o que tinha acontecido.
- Por quê ? - perguntou Maria.
- Nós estivemos aà há pouco, batemos, batemos e ninguém atendeu.
- Vocês estiveram aqui?
- Para saber como estava o João. O Pedro disse que andou sentindo a mesma coisa há alguns dias e queria dar umas dicas. O que houve?
- Nem te conto - contou Maria, pensando rapidamente. - O João deu uma piorada. Tentei chamar um médico e não consegui. Tivemos que ir a um hospital.
- O quê ? Então é grave.
- A febre aumentou. Ele começou a sentir dores no corpo.
- Apareceram pintas vermelhas no rosto - sugeriu João, que agora estava ao lado do telefone, apreensivo.
- Estava com o rosto coberto de pintas vermelhas.
- Meu Deus! Ele já teve sarampo, catapora, essas coisas?
- Já. O médico deu uns remédios. Ele está na cama.
- Vamos já para aÃ.
- Espere!
Mas LuÃsa já tinha desligado. João e Maria se entreolharam. E agora? Não podiam receber Pedro e LuÃsa. Como explicar a ausência das pintas vermelhas?
- Podemos dizer que o remédio que o médico deu foi milagroso. Que eu estou bom. Que podemos até sair para jantar - disse João, já com remorso.
- Eles iam desconfiar. Acho que já estão desconfiados. à por isso que vem para cá. A LuÃsa não acreditou em nenhuma palavra que eu disse.Decidiram apagar todas as luzes do apartamento e botar um bilhete na porta. João ditou o bilhete para Maria escrever.
- Bota aÃ: "João piorou subitamente. O médico achou melhor interná-lo. Telefonaremos do hospital".
- Eles são capazes de ir ao hospital à nossa procura.
- Não vão saber que hospital é.
- Telefonarão para todos. Eu sei. A LuÃsa nunca nos perdoará a Blanquette de Veau perdida.
- Então bota aÃ: "João piorou subitamente. Médico achou melhor interná-lo na sua clÃnica particular. O telefone lá é 236 - 6688".
- Mas esse é o telefone do seu escritório...
- Exato. Iremos para lá e esperaremos o telefonema deles.
- Mas até que a gente chegue ao seu escritório...
- Vamos embora!
Deixaram o bilhete preso na porta. Apertaram o botão do elevador. O elevador já estava subindo. Eram eles!
- Pela escada, depressa!
O carro de Pedro estava barrando a saÃda da garagem do edifÃcio. Não podiam usar o carro. Demoraram para conseguir um táxi. Quando chegaram ao escritório de João, que perdeu mais tempo explicando ao porteiro a sua presença ali no meio da noite, o telefone já estava tocando. Maria apertou o nariz para disfarçar a voz e atendeu:
- ClÃnica Rochedo."Rochedo?!" espantou-se João, que se atirara, ofegante, numa poltrona.
- Um momentinho, por favor - disse Maria.
Tapou o fone e disse para João que era LuÃsa. Que mulherzinha! O que a gente faz para preservar uma amizade. E não passar por mentiroso. Maria voltou ao telefone.
- O Sr. João está no quarto 17, mas não pode receber visitas. Sua senhora?
continuação...
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