Simples, mas bem posicionado – especificamente ao ponto que me refiro – é o texto de Álvaro Valls O que é ética, da tradicional coleção Primeiros Passos, da Editora Brasiliense. Para ele "os valores éticos podem se transformar, assim como se transforma a sociedade". Valls, na boa tradição marxista, trata a ética como um conceito sócio-histórico. Os comportamentos, explica, são comportamentos de acordo com o código de conduta socialmente aceito em seu tempo e em seu lugar. Aético é apenas aquele cuja prática de relacionamento social está em desacordo com a moral vigente.
Entretanto, encontramos repetidamente a busca de um conceito universalizante para a ética, dissociando a produção dos meios de subsistência dos homens de sua subjetividade moral. Para nós, um conceito universal de ética terá que ser construído pela luta de classes, onde se imponham valores que estejam de acordo com uma outra organização social diferente em sua essência do modo de produção capitalista. É o próprio Valls que questiona a extração da mais-valia como um comportamento antiético, na medida em que ofende a integridade do homem. E poderíamos apontar as agressões ao meio ambiente, a violência contra a mulher ou o racismo como comportamentos que agridem a vida, mas que se efetivam em fatos sociais pela resistência a que se apliquem ações afirmativas, políticas compensatórias e de reparação a estas desigualdades.
Isso nos remete à reflexão sobre a ética jornalística, de onde está irradiando toda a discussão sobre a prática profissional. O professor Bernardo Kucinski, aqui neste OI, confessa que passou por um processo de revisão de seu conceito de ética no jornalismo, pois, diz, "me colocava dentro da ética jornalística, e por isso não a podia ver criticamente ou como parte da ideologia de uma época ou fé de uma hegemonia datada". Em sua autocrítica, Kucinski passa a entender que a crise ética "resulta de um embate ideológico que se dá além da esfera estrita da comunicação, um embate entre propostas divergentes de civilização e de organização".
É por isso que a discussão da ética jornalística está no foco errado. A discussão da ética é uma discussão para além das fronteiras do fazer jornalismo. A ética perpassa todas as profissões, estando no próprio fazer humano, anterior à divisão social do trabalho no capitalismo e no mesmo nível do processo de construção da hegemonia de determinada ideologia e seu modelo econômico.
Então os jornalistas, e todos aqueles que se dispõem a discutir a centralidade da comunicação social na história humana, devem iniciar a discussão pela pergunta: "Que sociedade queremos?" É a resposta dada a esta pergunta, esta escolha operada por cada um, que vai parir a prática do médico, do advogado, do sapateiro, do lixeiro, do presidente da República e, por conseqüência, a sua ética. Se um jornalista prefere imaginar que é possível ser ético sem mudar o mundo estará enganando, na melhor das hipóteses, a si mesmo, isso se não for conscientemente covarde ou um oportunista disposto a qualquer negócio para se dar bem, bem no estilo neoliberal.
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RESUMO 2
Não existe povo ou lugar que não tenha noções de bem e mal, de certo e errado. Da Grécia Antiga aos nossos dias, a ética é um conceito que sempre esteve presente em todas as sociedades. Mas apesar disso, as dúvidas são muitas. Seria a ética apenas um conjunto de convenções sociais? Teria ela um princípio supremo que atravessa toda a história da humanidade? E numa sociedade capitalista, qual a relação entre ética e lucro?
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A ética do capital é o lucro ( Resumo do Livro )
Agnaldo Charoy Dias (*)
Simples, mas bem posicionado – especificamente ao ponto que me refiro – é o texto de Álvaro Valls O que é ética, da tradicional coleção Primeiros Passos, da Editora Brasiliense. Para ele "os valores éticos podem se transformar, assim como se transforma a sociedade". Valls, na boa tradição marxista, trata a ética como um conceito sócio-histórico. Os comportamentos, explica, são comportamentos de acordo com o código de conduta socialmente aceito em seu tempo e em seu lugar. Aético é apenas aquele cuja prática de relacionamento social está em desacordo com a moral vigente.
Entretanto, encontramos repetidamente a busca de um conceito universalizante para a ética, dissociando a produção dos meios de subsistência dos homens de sua subjetividade moral. Para nós, um conceito universal de ética terá que ser construído pela luta de classes, onde se imponham valores que estejam de acordo com uma outra organização social diferente em sua essência do modo de produção capitalista. É o próprio Valls que questiona a extração da mais-valia como um comportamento antiético, na medida em que ofende a integridade do homem. E poderíamos apontar as agressões ao meio ambiente, a violência contra a mulher ou o racismo como comportamentos que agridem a vida, mas que se efetivam em fatos sociais pela resistência a que se apliquem ações afirmativas, políticas compensatórias e de reparação a estas desigualdades.
Isso nos remete à reflexão sobre a ética jornalística, de onde está irradiando toda a discussão sobre a prática profissional. O professor Bernardo Kucinski, aqui neste OI, confessa que passou por um processo de revisão de seu conceito de ética no jornalismo, pois, diz, "me colocava dentro da ética jornalística, e por isso não a podia ver criticamente ou como parte da ideologia de uma época ou fé de uma hegemonia datada". Em sua autocrítica, Kucinski passa a entender que a crise ética "resulta de um embate ideológico que se dá além da esfera estrita da comunicação, um embate entre propostas divergentes de civilização e de organização".
É por isso que a discussão da ética jornalística está no foco errado. A discussão da ética é uma discussão para além das fronteiras do fazer jornalismo. A ética perpassa todas as profissões, estando no próprio fazer humano, anterior à divisão social do trabalho no capitalismo e no mesmo nível do processo de construção da hegemonia de determinada ideologia e seu modelo econômico.
Então os jornalistas, e todos aqueles que se dispõem a discutir a centralidade da comunicação social na história humana, devem iniciar a discussão pela pergunta: "Que sociedade queremos?" É a resposta dada a esta pergunta, esta escolha operada por cada um, que vai parir a prática do médico, do advogado, do sapateiro, do lixeiro, do presidente da República e, por conseqüência, a sua ética. Se um jornalista prefere imaginar que é possível ser ético sem mudar o mundo estará enganando, na melhor das hipóteses, a si mesmo, isso se não for conscientemente covarde ou um oportunista disposto a qualquer negócio para se dar bem, bem no estilo neoliberal.
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RESUMO 2
Não existe povo ou lugar que não tenha noções de bem e mal, de certo e errado. Da Grécia Antiga aos nossos dias, a ética é um conceito que sempre esteve presente em todas as sociedades. Mas apesar disso, as dúvidas são muitas. Seria a ética apenas um conjunto de convenções sociais? Teria ela um princípio supremo que atravessa toda a história da humanidade? E numa sociedade capitalista, qual a relação entre ética e lucro?