Religião e Sociologia do Conhecimento em Émile Durkheim.?
Por favor, me ajudem.Preciso fazer um trabalho sobre esses assuntos, mas não compreendo muito bem o livro.Bom estou desesperedo e se alguem puder me ajudar, desde já agradeço.Obrigado.
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Era de oposição!
2.1. Sua posição no desenvolvimento da Sociologia
Em artigo publicado em 1900 na Revue Bleue (“La Sociologie en France ao XIXe siècle”), defende a tese de que a Sociologia é “uma ciência essencialmente francesa” (DURKHEIM, 1970: p. 111), dado seu nascimento com Augusto Comte. Mas, morto o mestre, a atividade intelectual sociológica de seus discípulos foi sobrepujada pelas preocupações políticas. E a Sociologia imobilizou-se durante toda uma geração na França. Mas prosseguira, enquanto isso, seu caminho na Inglaterra, com Spencer e o organicismo. A França pós-napoleônica viveu num engourdissement mental, que só se interromperia momentaneamente com a Revolução de 1848 e, posteriormente, com a Comuna de Paris.
Durkheim é severo no julgamento do período que o antecedeu de imediato: fala mesmo de uma “acalmia intelectual que desonrou o meado do século e que seria um desastre para a nação”(id., ibid. p. 136).
O revigoramento da Sociologia se teria iniciado com Espinas, que introduziu o organicismo na França, ao mostrar que as sociedades – são organismos, distintos dos puramente físicos – são organizações de idéias. Mas para Durkheim tais formulações são próprias de uma fase heróica, em que os sociólogos procuram abranger na Sociologia todas as ciências.
“É tempo de entrar mais diretamente em relação com os fatos, de adquirir com seu contato o sentimento de sua diversidade e sua especificidade, a fim de diversificar os próprios problemas, de os determinar e aplicar-lhes um método que seja imediatamente apropriado à natureza especial das coisas coletivas”(id., ibid. p. 125-26).
Nada disso podia fazer o organicismo, que não nos dera uma lei sequer.
A tarefa a que se propôs Durkheim foi
“em lugar de tratar a Sociologia in genere, nós nos fechamos metodicamente numa ordem de fatos nitidamente delimitados salvo as excursões necessárias nos domínios limítrofes daquele que exploramos, ocupamo-nos apenas das regras jurídicas e morais, estudadas seja no seu devir e sua gênese [cf. Division du travail] por meio da História e da Etnografia comparadas, seja no seu funcionamento por meio da Estatística [cf. Le suicide]. Nesse mesmo círculo circunscrito nos apegamos aos problemas mais e mais restritos. Em uma palavra, esforçamo-nos em abrir, no que se refere à Sociologia na França, aquilo que Comte havia chamado a era da especialidade”(DURKHEIM, 1970: p. 126).
RELIGIÃO
O ponto de partida de Durkheim era a realidade social da religião, que ele via como exemplo daquilo que denominava "representações coletivas". Para Durkheim, as representações coletivas originam-se nas comunidades e incluem as categorias mais básicas do pensamento humano, tais como causalidade, tempo e espaço. Além disso, Durkheim argumentava que essas representações coletivas, embora inicialmente de conteúdo religioso, constituíam o paradigma de todas as formas avançadas do conhecimento teórico. Em seu relato sobre religião e a emergência das representações coletivas, era fundamental a separação que Durkheim fazia entre as ordens de significado de profano e sagrado, que ele afirmava ser característica inequívoca de todas as sociedades primitivas que estudara4. "Em toda a história do pensamento humano, não existe outro exemplo de duas categorias de coisas tão profundamente diferenciadas ou tão radicalmente opostas uma da outra" (Durkheim, 1961, p.53).
Para Durkheim, o profano dizia respeito a como as pessoas reagem a seu mundo cotidiano – de formas práticas, imediatas e particulares. Ele distinguia esse mundo cotidiano profano do mundo sagrado da religião, que via como inventado, arbitrário (no sentido de não estar ligado a objetos e eventos específicos) e, fundamentalmente, coletivo. O sagrado consistia em sistemas de conceitos correlatos, porém inobserváveis. Pelo fato de não estarem ligados a observações ou experiências específicas, esses sistemas de conceitos tinham, para Durkheim, uma objetividade proveniente de seu caráter compartilhado, social, e pelo fato de serem externos à percepção dos indivíduos. Pelo fato de esses conceitos não terem origem individual, o sagrado era relativamente fixo. Além disso, em sua condição de externo aos indivíduos, o sagrado exibia, na forma porém não no conteúdo, uma característica distinta de conhecimento e verdade – os indivíduos sentiam-se pressionados a aceitá-lo.
A religião era importante para Durkheim como exemplo de representações coletivas compartilhadas, não como prova da existência de Deus. Ele via a religião como portadora de uma função integradora5, capaz de manter a solidariedade social, e que servia de modelo para todos os outros tipos de pensamento abstrato, inclusive a ciência moderna que consiste em conceitos inobserváveis. Em outras palavras, os totens dos aborígenes e as leis sobre gases do físico eram, ao menos na forma, idênticos para Durkheim. Ele identificava duas características principais, que conferiam ao sagrado seu status de paradigma como base do conhecimento futuro. Primeiro, na medida em que era constituído de um conjunto de conceitos compartilhados por uma comunidade, embora não conectado a objetos ou eventos específicos, o sagrado permitia que as pessoas fizessem conexões entre objetos e eventos que, com base em sua experiência cotidiana, não pareciam se correlacionar. Essa capacidade de conexão é fundamental para os cientistas e o homem moderno em geral, porém não o era menos para os membros das comunidades primitivas que vivenciavam a maior parte dos eventos naturais como forças externas sobre as quais tinham pouco controle. Em segundo lugar, por não estar conectado ao mundo do cotidiano, o sagrado permite que as pessoas projetem para além do presente, para um futuro. Nas sociedades primitivas a projeção referia-se à capacidade de as pessoas intuírem algum tipo de vida além do seu mundo cotidiano, ao passo que nas sociedades modernas essa projeção transforma-se no potencial de predizer com base nos conceitos científicos e, de forma mais geral, de ser capaz de conceber alternativas.
Para Durkheim, essas duas características distinguiam o conhecimento teórico (no sentido de conhecimento constituído por um sistema de conceitos), seja religioso ou científico, do conhecimento cotidiano. Ao mesmo tempo, a distinção não se referia a julgar se um tipo de conhecimento era superior ao outro, a ênfase repousava sobre suas diferenças. Como Durkheim apontava, a vida cotidiana não seria possível se só pudéssemos contar com o conhecimento teórico. De forma semelhante, se nosso pensamento fosse restrito ao profano ou ao cotidiano, somente de formas muito limitadas seria possível extrair sentido do mundo. Além disso, o pensamento cotidiano, situado como está em respostas a contextos específicos, não serve de base para desenvolver um conhecimento objetivo do mundo que transcenda esses contextos. O argumento de Durkheim era de que todas as sociedades se caracterizam por um nível de especialização entre esses dois tipos de conhecimento. O que distingue as sociedades não é a especialização em si ou o fato de dispor de conceitos abstratos inobserváveis, mas sim o alcance da especialização, a natureza dos conceitos6 e até que ponto os conceitos são sujeitos a críticas e submetidos a testes empíricos.