É no contexto da Pesquisa Ator rapsodo: pesquisa de procedimentos para uma linguagem teatral, que desenvolvo na UNIRIO, desde 1999, o uso das categorias verbal e gestual, como interferências diferenciadas na comunicação com o espectador, com um foco investigativo principal no trabalho do ator. Entre os procedimentos atorais, ocupo-me da realização géstica dos significados, entendida como plasmação fisicalizada da narratividade verbal. A investigação vai, portanto, no sentido de se ter na gestualidade o foco principal do trabalho do ator, como princípio e chegada para todos os procedimentos cênicos adotados.
Na relação entre os textos verbal e gestual, tenho preferência, para a construção da cena, pelos movimentos que vão além do significado imediato daquilo que é verbalizado, baseada numa idéia simples de que o que é dito não precisa ser feito. O referencial é o que se almeja significar ou dar a perceber ou oferecer como fruição, a que se articulam as duas instâncias: a palavra e o gesto. A opção é por um movimento que seja uma espécie de revelação fisicalizada daquilo que seria, na fala de Stanislavski, o monólogo, a ação interior, que no caso do ator rapsodo é exercida do ponto de vista de um personagem que se expressa pela fala dialógica e/ou narrativa.
Trata-se de pensar e exercer a gestualidade para, principalmente, ampliar os significados do texto falado, de forma que o movimento seja exercido como uma explicitação do pensamento do narrador sobre aquilo de que fala. A partitura gestual é sempre a deste personagem narrador, mesmo quando sua fala pertence a um personagem da história que está sendo narrada e é dita na primeira pessoa. Isto significa certa primazia do narrador sobre o personagem já que, mesmo como personagem, a gestualidade se mantém do ponto de vista do narrador. Desta forma, pensamos a encenação como uma tessitura formada pelos vínculos que se estabelecem entre os textos verbal e gestual, compreendendo a narratividade muito mais que uma fala que narra: como uma atitude do ator que se comporta como quem cita. Fala e gesto têm a qualidade do citativo.
Este evidenciamento do gesto como linguagem, o investimento em uma realização géstica dos significados aplicados numa cena que privilegia a discursividade narrativa, produz um efeito de descotidianização da cena. Os procedimentos atorais se afastam dos padrões do realismo psicológico, aproximando-se de conceitos como impulso e organização, de que fala Grotowski (1); da estilização mencionada por Meierhold (2); do distanciamento e controle brechtianos. E ainda assim, para usar a terminologia consagrada por Stanislavski em seu método, admite recursos como a fé cênica, a ação anterior, o objetivo da ação e outros (3).
Esta mistura aparentemente incoerente vai ganhando corpo, literalmente, no trabalho realizado pelos atores através de uma bateria de exercícios narrativos e corporais e no processo de ensaios das peças encenadas como produto final de cada etapa prevista de investigação. Metodologia
A encenação teatral é o ponto de convergência dos campos da literatura, da poética da cena e da pedagogia do ator, nos quais transita a pesquisa. Sob a forma de projetos com duração prevista de um ano cada um, para desenvolvimento e conclusão, o trabalho se organiza em etapas. A primeira compreende a preparação dos atores (através de exercícios da prática narrativa e de laboratórios improvisacionais sobre técnicas de Expressão Corporal, em que as propostas são selecionadas já levando em conta a sua possível utilização na cena) e do material textual em que serão aplicados os resultados dos exercícios propostos. Seguem-se os laboratórios improvisacionais de encenação, em que se fazem borbulhar os impulsos que, exteriorizados em movimentos, vão sendo organizados de forma ainda imprecisa, abrindo e mantendo espaços largos para a criação espontânea. Aos poucos, os materiais verbais e gestuais vão sendo partiturizados de acordo com aquilo que se quer experimentar como poética e linguagem teatral. A intenção é que o frescor do impulso inicial nunca desapareça - falamos em não domesticar o impulso selvagem. Pretende-se que a elaboração final da cena, em partitura dominada de fala e movimento seja, realmente, a exteriorização do impulso interno do ator para aquele momento exato da representação.
Dentro dessa linha metodológica, minhas funções como orientadora dão conta de selecionar a matéria prima textual e os procedimentos a serem experimentados, exercitando os atores quanto a sua execução e possíveis desdobramentos. Como diretora, minhas atribuições são estabelecer uma concepção, como princípios ou imagem matriz da cena; indicar uma composição espacial desenhada e exercer uma interferência, no sentido de garantir que os movimentos que formam as partituras atorais, na sua quase totalidade de criação dos atores, cumpram os diferentes níveis e relações almejados com o texto verbal e com o espectador.
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GESTUALIDADE
É no contexto da Pesquisa Ator rapsodo: pesquisa de procedimentos para uma linguagem teatral, que desenvolvo na UNIRIO, desde 1999, o uso das categorias verbal e gestual, como interferências diferenciadas na comunicação com o espectador, com um foco investigativo principal no trabalho do ator. Entre os procedimentos atorais, ocupo-me da realização géstica dos significados, entendida como plasmação fisicalizada da narratividade verbal. A investigação vai, portanto, no sentido de se ter na gestualidade o foco principal do trabalho do ator, como princípio e chegada para todos os procedimentos cênicos adotados.
Na relação entre os textos verbal e gestual, tenho preferência, para a construção da cena, pelos movimentos que vão além do significado imediato daquilo que é verbalizado, baseada numa idéia simples de que o que é dito não precisa ser feito. O referencial é o que se almeja significar ou dar a perceber ou oferecer como fruição, a que se articulam as duas instâncias: a palavra e o gesto. A opção é por um movimento que seja uma espécie de revelação fisicalizada daquilo que seria, na fala de Stanislavski, o monólogo, a ação interior, que no caso do ator rapsodo é exercida do ponto de vista de um personagem que se expressa pela fala dialógica e/ou narrativa.
Trata-se de pensar e exercer a gestualidade para, principalmente, ampliar os significados do texto falado, de forma que o movimento seja exercido como uma explicitação do pensamento do narrador sobre aquilo de que fala. A partitura gestual é sempre a deste personagem narrador, mesmo quando sua fala pertence a um personagem da história que está sendo narrada e é dita na primeira pessoa. Isto significa certa primazia do narrador sobre o personagem já que, mesmo como personagem, a gestualidade se mantém do ponto de vista do narrador. Desta forma, pensamos a encenação como uma tessitura formada pelos vínculos que se estabelecem entre os textos verbal e gestual, compreendendo a narratividade muito mais que uma fala que narra: como uma atitude do ator que se comporta como quem cita. Fala e gesto têm a qualidade do citativo.
Este evidenciamento do gesto como linguagem, o investimento em uma realização géstica dos significados aplicados numa cena que privilegia a discursividade narrativa, produz um efeito de descotidianização da cena. Os procedimentos atorais se afastam dos padrões do realismo psicológico, aproximando-se de conceitos como impulso e organização, de que fala Grotowski (1); da estilização mencionada por Meierhold (2); do distanciamento e controle brechtianos. E ainda assim, para usar a terminologia consagrada por Stanislavski em seu método, admite recursos como a fé cênica, a ação anterior, o objetivo da ação e outros (3).
Esta mistura aparentemente incoerente vai ganhando corpo, literalmente, no trabalho realizado pelos atores através de uma bateria de exercícios narrativos e corporais e no processo de ensaios das peças encenadas como produto final de cada etapa prevista de investigação. Metodologia
A encenação teatral é o ponto de convergência dos campos da literatura, da poética da cena e da pedagogia do ator, nos quais transita a pesquisa. Sob a forma de projetos com duração prevista de um ano cada um, para desenvolvimento e conclusão, o trabalho se organiza em etapas. A primeira compreende a preparação dos atores (através de exercícios da prática narrativa e de laboratórios improvisacionais sobre técnicas de Expressão Corporal, em que as propostas são selecionadas já levando em conta a sua possível utilização na cena) e do material textual em que serão aplicados os resultados dos exercícios propostos. Seguem-se os laboratórios improvisacionais de encenação, em que se fazem borbulhar os impulsos que, exteriorizados em movimentos, vão sendo organizados de forma ainda imprecisa, abrindo e mantendo espaços largos para a criação espontânea. Aos poucos, os materiais verbais e gestuais vão sendo partiturizados de acordo com aquilo que se quer experimentar como poética e linguagem teatral. A intenção é que o frescor do impulso inicial nunca desapareça - falamos em não domesticar o impulso selvagem. Pretende-se que a elaboração final da cena, em partitura dominada de fala e movimento seja, realmente, a exteriorização do impulso interno do ator para aquele momento exato da representação.
Dentro dessa linha metodológica, minhas funções como orientadora dão conta de selecionar a matéria prima textual e os procedimentos a serem experimentados, exercitando os atores quanto a sua execução e possíveis desdobramentos. Como diretora, minhas atribuições são estabelecer uma concepção, como princípios ou imagem matriz da cena; indicar uma composição espacial desenhada e exercer uma interferência, no sentido de garantir que os movimentos que formam as partituras atorais, na sua quase totalidade de criação dos atores, cumpram os diferentes níveis e relações almejados com o texto verbal e com o espectador.
Beijos!
♡♡♡♫
significa uma pessoa que ao exprimir algum gesto esta
se usa por exemplo a sua cabeca ou braco.
vem de gesto
ele sabe fazer gestualidades
mimica gestos