Quem procura o pai nos outros?

PAra muitos a paternidade se encerra na cópula, gerando filhos carentes, solitários, inseguros, tímidos, muitas vezes moldados pelo desejo de vingança da mãe, que fala mal dos homens.

Outras pessoas efetivamente tiveram pai, mas o perderam em função de alguma tragédia pessoal, ou mesmo o divórcio causou extrema distãncia entre pai e filhos. Nunca antes o divórcio fora tão fácil e os relacionamentos tão frívolos e fúteis, moldados pelo modelo televisivo de ausência do ser.

Na minha infância e adolescência me flagrei inúmeras vezes admirando professores, amigos ou pessoas mais velhas como sendo a um próprio pai, na busca do elo invisível que não tive. Hj , adulto, ainda me surpreendo aqui e acolá com esse mesmo sentimento. A própria lei brasileira considerava o pai como figura secundária na criação dos filhos. Hj o código civil já admite a guarda compartilhada.

Sobre esse tema, como foi seu relacionamento com seu pai?

Comments

  • Olá Monsenhor.

    Um dia deste, numa pergunta qualquer da vida, o tema foi o porque da TRISTEZA gerar canções e poemas tão bonitos.

    É que a TRISTEZA é um sentimento que - não compreendo, é taxado com de menor grandeza - é a propulsora de muita "coisa" de qualidade, neste nosso planeta.

    Meu relacionamento com o meu pai, foi o da ausência. Foram 15 anos de convívio, dos quais não me lembro de haver tido qualquer 10 ou 15 minutos de atenção.

    Além disso, as surras. Sou do tempo em que se apanhava. E muito. (rs) Um irmão, mais esperto que eu, quando se tocava da agressão eminente, corria para vestir mais uma roupa por baixo! (rs)

    Um outro irmão, coitado!, confessou “sob tortura” um crime não cometido: quem confessasse uma arte havida, iria ganhar um Guaraná! O coitado confessou ... É engraçado. Mas é trágico ao mesmo tempo.

    Do meu Pai, tenho a lembrança do álcool que ingeria e da omissão que ostentava.

    E passar por tudo isto, me fez um bem danado à alma.

    Cresci rápido, aos 16 já era eu também um pai. Diferente, mas era.

    Ter sido criado desta forma, me fez ser um bom pai para os meus filhos, não um “amiguinho”, mas um educador severo, porém terno, e deles, dos filhos, graças ao meu bom Deus tenho a estima, o respeito e a consideração.

    A “tristeza” na infância, fez de mim um ser humano bom, avesso às injustiças, de extrema bondade com o semelhante.

    Minha história, como vê, não é diferente das demais.

    Houveram momentos bons na minha infância, mas isto é assunto para outra resposta.

    Um abraço a todos e uma boa noite.

  • O relacinamento com meu pai sempre foi baseado no medo. Meu pai sempre foi uma pessoa distante, autoritária, agressiva, não demonstrava amor, carinho, afeto. Tenho e sempre tive muito medo dele. Ele nunca me fez um carinho, nunca conversou comigo, nunca recebi um elogio dele, só críticas e gritos. Atualmente nosso relacionamento é baseado no distanciamento, eu não consigo iniciar uma conversa com ele, mesmo sobre assuntos informais, qualquer bobagem que seja, mal consigo olhar para ele.

    Nunca me flagei admirando outra pessoa como sendo um pai, mas já admirei tias, professoras, conhecidas mais velhas como sendo uma mãe que eu desejava ter ou ser.

    Você me fez pensar por que será que nunca admirei alguém como sendo um pai e já admirei várias mulheres como sendo uma mãe.

    Tenha um excelente domingo.

  • Graças a Deus, ainda tenho meu pai neste plano!

    Ele hoje tem 90 anos de idade! É lúcido, esperto, de bem com a vida, perspicaz e tem um humor delicioso!

    Graças a Deus, de novo, sempre tive uma boa relação com ele!

    Aliás, boa é apelido!

    Nunca tive de "procurar o pai nos outros", sempre o tive ao alcance das mãos, para os conselhos e as broncas também!

    Ele sempre foi amigo, um exemplo de honestidade e de caráter!

    Hoje sou mãe de um guri de 10 anos, e sou incapaz de imaginar a maternidade sem o pai do meu filho ao meu lado!

    Filho precisa de PAI e MÃE lado a lado!

    Filho não é um cachorrinho que se compra em um pet shop e pronto!

    Filho precisa de apoio e presença paterna e materna!

    Beijinhos!!!

  • Monsenhor,

    o meu relacionamento com meu pai...não foi.Era um homem extremamente paquerador e o casamento com minha mãe não deu certo.Hoje ela assume sua parcela de culpa, mas durante um tempo, a culpa coube exclusivamente ao meu pai.Eles se separaram quando eu era muito novo para ter alguma lembrança dele.

    Eu já alimentei muito rancor em relação a ele,porque sentia que minha vida poderia ter tomado outro rumo se ele estivesse por perto para me dar apoio nos momentos cruciais . Não me recordo de alguma vez ter procurado uma figura paterna em outras pessoas, porque se você é criado sem o pai, por conseqüência também é criado sem mãe porque ela invariavelmente vai ter de sair para trabalhar fora. Então,desde cedo, solto sozinho no vazio do mundo , não fui ensinado a procurar apoio em ninguém que não fosse eu próprio. Isso é ruim, porque ser criado sem uma figura forte (pai ou mãe) pode nos tornar pessoas extremamente inseguras.Claro que crianças diferentes,em contextos diferentes reagem de modo também diferentes.

    Eu ainda costumava culpá-lo por tudo de bom que não me ocorreu e pelo vácuo que sua ausência criou em minha vida.Mas uma amiga me disse certa vez que para superar essa mágoa e seguir em frente eu deveria me tornar meu próprio pai.

    Fiquei muito impressionado com esse conselho e meditando nele, cheguei a conclusão de que eu sempre fui meu próprio pai. A partir dessa conclusão, consegui perdoar meu pai, por tudo o que ele não foi para mim.Minha amiga tinha razão.Perdoá-lo não teve qualquer efeito sobre ele, mas foi benéfico para mim.Afinal, casamentos dão errado e ninguém se casa planejando que seja assim.Claro que acho inaceitável que um homem ou uma mulher se esqueça que tem filhos só porque o casamento acabou.Pode até existir "ex-marido" ou "ex-esposa" ,mas filho é pra sempre.Há muitos casos em que o cônjuge que fica com os filhos realmente os envenenam contra o ex parceiro, mas ainda assim, cabe a esse ex se fazer presente sempre, para que não falte apoio ou para que o filho não acabe chegando a triste conclusão de que o pai ou a mãe com quem ficaram tem razão e que o outro que o deixou realmente não presta.Então amigo, na falta de uma figura forte em quem me apoiar, achei meu pai em mim mesmo.E reinventei-me à partir de então.

    Um abraço.

  • Tão bom q eu conto os minutos pra ir buscar o corpo dele no IML para enterrá-lo numa cova rasa dentro d um caixote d feira.

  • Maravilhoso, sempre foi um pai presente, carinhoso e se hoje não tenho problema de baixo estima, devo a ele que me enchia de elogios, o contrário da minha mãe que só conhecia a linguagem da pancada.Bjs

  • Bem, eu tive uma experiência semelhante a sua. Com dez anos meu pai faleceu. Era meu ídolo. Não saia das pernas dele. Um vazio ficou em mim. Insubstituível. Meu tio me criou. Mas não era meu pai. Não sabia contrariá-lo, no sentido de dialogo, aberto, franco, amigo. Era só respeito para com ele. Meu pai era eu. Mas, como ser pai, se eu não tinha pai? Sem ninguém para chorar, desabafar as mágoas, sofrimentos, tristezas. Assim, pulamos estágios das nossas vidas: vivemos a infância, como adultos, pois, a experiência nos dá a atenção para que os nossos amigos (colegas de infância) não façam coisas erradas, pois atingimos a vivência dos adultos: mas somos crianças, queríamos viver essa fase praticando erros e acertos. Mas com a perda do pai, ganhamos liberdade... mas no fundo não queremos essa liberdade, assim há dois caminhos: a liberdade do mal e a liberdade do bem.

    No caso da separação dos pais, os filhos sofrem, mesmo que não demonstrem isso. Mas cada vida tem um destino. Assim, os filhos se conformam. Ainda se tem a esperança de ter um pai. Seja adorando-o ou odiando-o. O que é um pouco diferente de perder um pai.

  • Às vezes ocorre com pessoas que não tiveram a presença paterna durante a infância.

  • Igualzinho ao seu, antigamente os pais tinham medo de demonstrar afeto, carinho, amor pelos filhos, mesmo que os amasse muito, ate as vezes maltratavam demonstrando assim ser o amor que sentiam, achavam mais facil maltratar do que amar, demonstrar os seus sentimentos atraves de um gesto afetuoso, de um carinho, penso que meus pais me deram aquilo que receberam, ou seja, nao receberam nada, porque nao me deram nada em materia de amor, carinho, afeto. Crescemos entao com esta carencia, eu tambem costumava sentir vergonha no dia dos pais na escola, os meus nao iam, todos iam, menos os meus. Hoje, ja com uma certa idade nao sinto mais vergonha de nada, creio que foi uma consequencia da vida que meus pais tiveram...a gente da aquilo que recebe, se nao recebemos nada, nao podemos dar nada. Eles nao me deram amor, mas em compensacao nao receberam de mim nenhuma especie de afeto. Foram apenas os que me puseram no mundo. Penso que somos a geracao perdida, igual o James Dean...somos desencontrados. Hoje os pais participam na educacao dos filhos, antigamente era as maes que cabia esta tarefa, os pais estavam sempre distante trabalhando para levar a casa. Hoje os pais tem licenca maternidade, podem partilhar os primeiros meses de vida das criancas, sabem trocar fraldas, dar uma papinha, levam os filhos a todo lado, vemos pais que sao verdadeiras maes, eu os admiro. A sociedade atual e muito mais aberta, porem, penso sempre que na separacao dos casais, na maioria das vezes a mae deve ficar com a posse dos filhos. Existe um elo de ligacao muito maior com a mae do que com o pai. Embora eu tenha tido mais ligacao com meu pai que com minha mae. Ainda bem que tudo isto hoje ja esta mudado....

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