Um poema para Livre Pensadores: A apostasia?
Hoje acordei impoluto, todo o sangue fora lavado,
Em meu religário, manchas rubras, férreas, jaziam secas,
e emolduravam tragédias remotas, das quais, ébrio de louvor, não me recordava como protagonista.
Mas era minha a vergonha, a herdei, mordi a maçã, ouvi a serpente,
Não encontrei auréolas no frio piso de cerâmica, não vislumbrei vestígios,
do sobrenatural no cômodo,
Algo mudou, não encareci de abrigos metafísicos, não busquei abrigos filosóficos,
Como o álcool que emana dos poros oriundos de ordinária e mesquinha ressaca, a santidade se foi,
Me levanto novo, jovem, não existem lesões em minhas coxas,
As marcas do silício transcendental cicatrizaram no último milagre,
O primeiro que presenciei, caminho sem roncar, retilíneo,
Deus, não mais está em mim,
Eu, não mais estou nele,
Deus, não está mais comigo,
Eu, não mais estou com ele,
A mochila é leve, não há mais pedras, ou cravos, ou cruzes, ou mortes,
Não carrego maldições, não preciso de redenções,
Não me ajoelho mais, nunca mais.
A carne em minhas patelas está intocadas, prodígio, cresci,
Olho para trás e vejo minha infância segurando o velho terço,
As cláusulas foram remissas, o ônus levantado, o pétreo se dobrou,
A resposta para a charada é a tormenta congelante,
O único mistério, é não haver mistério,
Este, é o verdadeiro e ímpar refrigério,
Flexionado irremediavelmente pela razão que me chutou os cornos,
E que me rasgou o verbo, o mesmo verbo que se fez no início,
O mesmo verbo que separou o joio, da humanidade,
O verbo morto da palavra viva,
O verbo voraz da crença antropofágica, vampiresca,
Um cristo amadeirado na parede olha a minha face e parece esculturalmente atônito,
Nenhuma sílaba é dita, e magicamente me liberta de seu julgo,
Em sua onisciência inócua, sabia que o jogo acabara,
O rei tombou no tabuleiro de mármore,
O último encontro do patético Blain Dainty que nunca se revelou, à ninguém,
Eu estou livre, permaneço livre, esse é o espólio,
Este é o genuíno prêmio,
A negação, foi o único bem que conquistei de sua eterna e limitada bondade,
Era tudo que precisava, mas não sabia,
Me sussurravam o contrário, desde a pira batismal,
Então, me abraço ao meus erros como tábua de salvação,
Dá incorrupta salvação,
Daquela que não me suborna,
E que nada me exige em troca,
A masmorra era de mentira, o cadeado, de papel,
Não há mais refém, não há mais sequestro,
O crime abençoado foi descontinuado,
É um novo dia, o primeiro sem deus,
O primeiro sem dívidas, o primeiro sem culpa,
Torno a cabeça, e olho uma derradeira vez para o nazareno sobre a porta,
O menino palestino está inerte, à mim, ao mundo, à dor,
Não há sinal de respeito imerecido em minha íris,
Não há reverência ou despedida, não há nada,
Cerro as pálpebras, bombeio meu coração de sangue e regozijo e me despeço,
Terminou o namoro, acabou a relação,
Ele nunca venceu o mundo, nem à mim venceu,
Bato a porta e plastifico o sorriso perene da vitória irredutível em meu rosto,
Apenas saio, apenas sóbrio, apenas falível, apenas bípede, apenas primata, apenas humano, como sempre fui.
(HPCharles)
Update:No more sorrow!
Comments
Uau! Muito bom!
JESUS CADA DIA QUE EU VIVO MAIS TE AMO ,INCLUISTES A MINHA VIDA NOS TEUS PLANOS ,HOJE EU VIVO PRA FALAR DO SEU AMOR ,AGORA MINHAS MAOS MOSTRAM AO MUNDO A SUA ESTRADA ,MINHA VOS SEMEARA TUA PALAVRA PRA MOSTRAR COMO EU TE AMO JESUS