..Não tenho um poeta preferido, pelo fato de cada um ter o seu estilo. Todavia, o poeta que eu mais gosto de ler e me identifico é o Manuel Bandeira. Meu poema preferido do Bandeira é o "A Última Canção do Beco".
..Também escrevo. Um dos que escrevi e gosto muito é o "Bússola":
Bússola
Como se eu morrese em dois dias,
me sinto ávido de fazer o que ainda não fiz;
de perceber integralmente a realidade,
de sugar do mundo em estado de fruta
toda a essência do Belo.
Perplexo.
Diante de mim,
a gente é empurrada pela rotina
pelas calçadas, entre cubos de concreto e vidro.
Todas têm um destino próprio dentro de si,
sabem exatamente onde têm de ir.
Não eu.
De braços como pêndulos,
uma profusão de vontades
pesa-me sobre os ombros;
muito em mim ainda está pendente,
e não sei por onde começar.
Elas passam —
fluxo do cotidiano.
Olho para tudo isso. Há ali,
entretanto,
entre todos,
agachado como um empecilho
da exceção, que obstrui
a fluidez do dia a dia,
um homem e seu cachimbo.
Devo reparar nele?
Como a fumaça,
estou pleno do acaso.
As pessoas entram
e saem,
andam e
correm,
têm pressa de chegar.
Mas eu não conheço meu destino,
meu ponto de chegada.
Mas há mesmo uma chegada?
É mister haver um destino?
Não tenho uma bússola
e estou perdido.
Perdido sem nem mesmo ter um lugar de que se perder.
Comments
..Não tenho um poeta preferido, pelo fato de cada um ter o seu estilo. Todavia, o poeta que eu mais gosto de ler e me identifico é o Manuel Bandeira. Meu poema preferido do Bandeira é o "A Última Canção do Beco".
..Também escrevo. Um dos que escrevi e gosto muito é o "Bússola":
Bússola
Como se eu morrese em dois dias,
me sinto ávido de fazer o que ainda não fiz;
de perceber integralmente a realidade,
de sugar do mundo em estado de fruta
toda a essência do Belo.
Perplexo.
Diante de mim,
a gente é empurrada pela rotina
pelas calçadas, entre cubos de concreto e vidro.
Todas têm um destino próprio dentro de si,
sabem exatamente onde têm de ir.
Não eu.
De braços como pêndulos,
uma profusão de vontades
pesa-me sobre os ombros;
muito em mim ainda está pendente,
e não sei por onde começar.
Elas passam —
fluxo do cotidiano.
Olho para tudo isso. Há ali,
entretanto,
entre todos,
agachado como um empecilho
da exceção, que obstrui
a fluidez do dia a dia,
um homem e seu cachimbo.
Devo reparar nele?
Como a fumaça,
estou pleno do acaso.
As pessoas entram
e saem,
andam e
correm,
têm pressa de chegar.
Mas eu não conheço meu destino,
meu ponto de chegada.
Mas há mesmo uma chegada?
É mister haver um destino?
Não tenho uma bússola
e estou perdido.
Perdido sem nem mesmo ter um lugar de que se perder.
Gosto de muitos.
Hoje gosto de Só Tu do Paulo Setubal.
Amanhã talvez de outro mais alegre quem sabe
Eu prefiro à mim, porque o que eu escrevo me causa intensa satisfação !
http://afpoesias.com.br/
Depende do momento.
Sim e tbm depende do momento.
Poema preferido: Lira do amor ,não escrevo
Atirei um limão n'água
E fiquei vendo na margem
Os peixinhos responderam:
Quem tem amor tem coragem
Atirei um limão n'água
E caiu enviesado
Ouvi um peixe dizer
Melhor é o beijo roubado
Atirei um limão n'água
Como faço todo ano.
Senti que os peixs diziam
Todo amor vive de engano.
Atirei um limão n'água
Como um vidro de perfume.
Em coro os peixes disseram:
Joga fora teu ciúme.
Atirei um limão n'água
Mas perdi a direção.
Os peixes, rindo, notaram
Quanto dói uma paixão!
Atirei um limão nágua,
Ele afundou um barquinho.
Não se espantaram os peixes.
Faltava-me o teu carinho.
Atirei um limão n'água,
O rio logo amargou.
Os peixinhos repetiram:
É dor de quem muito amou.
Atirei um limão n'água,
O rio ficou vermelho.
E cada peixinho viu
Meu coração num espelho.
Atirei um limão n'água
Mas depois me arrependi.
Cada peixinho assustado
Me lembra o que já sofri.
Atirei um limão n'água
Antes não tivesse feito.
Os peixinhos me acusaram
De amar com falta de jeito.
Atirei um limão n'água
Fez-se logo um burburinho.
Nenhum peixe me avisou
Da pedra no meu caminho.
Atirei um limão n'água
De tão baixo ele boiou.
Comenta o peixe mais velho:
Infeliz quem não amou.
Atirei um limão n'água
Antes atirasse a vida.
Iria viver com os peixes
A minh'alma dolorida.
Atirei um limão n'água
Pedindo à água que o arraste.
Até os peixes choraram
Porque tu me abandonaste.
Atirei um limão n'água
Foi tamanho rebuliço.
Que os peixinhos protestaram:
Se é amor, deixa disso.
Atirei um limão n'água
Não fez o menor ruído.
Se os peixes nada disseram
Tu me terás esquecido?
Atirei um limão n'água
Caiu certeiro: zás-trás.
Bem me avisou um peixinho.
Fui passado para trás.
Atirei um limão n'água
De clara ficou escura.
Até os peixes já sabe:
Você não ama, tortura.
Atirei um limão n'água
E caí n'água também.
Pois os peixes me avisaram
Que lá estava meu bem.
Atirei um limão n'água
Foi levado na corrente.
Senti que os peixes diziam:
Hás de amar eternamente.
Não tenho.