Um pouco de Augusto dos Anjos?

Falas de amor, e eu ouço tudo e calo

O amor na Humanidade é uma mentira.

E é por isto que na minha lira

De amores fúteis poucas vezes falo.

O amor! Quando virei por fim a amá-lo?!

Quando, se o amor que a Humanidade inspira

É o amor do sibarita e da hetaíra,

De Messalina e de Sardanapalo?

Pois é mister que, para o amor sagrado,

O mundo fique imaterializado

— Alavanca desviada do seu fulcro —

E haja só amizade verdadeira

Duma caveira para outra caveira,

Do meu sepulcro para o teu sepulcro?!

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  • VERSOS INTIMOS

    Vês! Ninguem assistiu ao formidável

    Enterro de sua última Quimera,

    Somente a ingratidão- esta pantera-

    Foi tua companheira inseparável

    Acostuma-se a lama que te espera!

    O homem que, nesta terra miserável,

    Mora, entre feras, sente inevitável

    Necessidade de também ser fera.

    Toma um fósforo. Acende seu cigarro!

    O beijo, amigo, é a vespera do escarro,

    A mão que afaga é a mesma que apedreja.

    Se alguem causa inda pena a tua chaga,

    Apedreja essa mão vil que te afaga,

    Escarra nessa boca que te beija

  • Prezada Ansiosa, obrigado por compartilhar conosco um pouco de suas preferências poéticas.

    Nas belas, e ilustradas, respostas acima, já há mais que um pouco de Augusto dos Anjos, que acho ótimo, mas só para diversificar, e não para contrariar, vou devolver com outro poeta maldito:

    O ARCHOTE VIVO

    Andam diante de mim teus olhos cristalinos,

    A quem um anjo cedeu olhar magnetizante:

    Andam: são meus irmãos estes irmãos divinos.

    Jogando em meu olhar seus fogos de diamante;

    Salvando-me de risco e de pecado ignavo,

    Pela estrada do belo eles impõem meus rastros.

    Olhos meus servos são, deles sou escravo!

    Obedece a meu ser a estes vívidos astros.

    Doces olhos, brilhais desta flama hierática

    Dos círios a queimar em pleno dia, o sol

    Vermelho não apaga esta chama fantástica;

    E se louvam a morte cantais o arrebol.

    Pois ides a cantar minha ressurreição,

    Astros que não têm sol que lhes murche o clarão!

    Charles Baudelaire

    (Lês Fleurs du Mal. São Paulo: Abril, 1984.)

    Um abraço,

  • Gosto muito desse poeta, a poesia que você colocou é uma de suas mais conhecidas. Leia essa:

    A lágrima

    - Faça-me o obséquio de trazer reunidos

    Cloreto de sódio, água e albumina...

    Ah! Basta isto, porque isto é que origina

    A lágrima de todos os vencidos!

    -"A farmacologia e a medicina

    Com a relatividade dos sentidos

    Desconhecem os mil desconhecidos

    Segredos dessa secreção divina"

    - O farmacêutico me obtemperou. -

    Vem-me então à lembrança o pai Yoyô

    Na ânsia física da última eficácia...

    E logo a lágrima em meus olhos cai.

    Ah! Vale mais lembrar-me eu de meu Pai

    Do que todas as drogas da farmácia!

  • poeta maravilhoso...

    deixo aqui, os meus favoritos...

    A aeronave

    Cindindo a vastidão do Azul profundo,

    Sulcando o espaço, devassando a terra,

    A aeronave que um mistério encerra

    Vai pelo espaço acompanhando o mundo.

    E na esteira sem fim da azúlea esfera

    Ei-la embalada n’amplidão dos ares,

    Fitando o abismo sepulcral dos mares,

    Vencendo o azul que ante si s’erguera.

    Voa, se eleva em busca do infinito,

    É como um despertar de estranho mito,

    Auroreando a humana consciência.

    Cheia da luz do cintilar de um astro,

    Deixa ver na fulgência do seu rastro

    A trajetória augusta da Ciência.

    A árvore da serra

    — As árvores, meu filho, não têm alma!

    E esta árvore me serve de empecilho...

    É preciso cortá-la, pois, meu filho,

    Para que eu tenha uma velhice calma!

    — Meu pai, por que sua ira não se acalma?!

    Não vê que em tudo existe o mesmo brilho?!

    Deus pos almas nos cedros... no junquilho...

    Esta árvore, meu pai, possui minh'alma! ...

    — Disse — e ajoelhou-se, numa rogativa:

    «Não mate a árvore, pai, para que eu viva!»

    E quando a árvore, olhando a pátria serra,

    Caiu aos golpes do machado bronco,

    O moço triste se abraçou com o tronco

    E nunca mais se levantou da terra!

    VERSOS ÍNTIMOS

    Vês?! Ninguém assistiu ao formidável

    Enterro de tua última quimera.

    Somente a Ingratidão — esta pantera —

    Foi tua companheira inseparável!

    Acostuma-te à lama que te espera!

    O Homem, que, nesta terra miserável,

    Mora, entre feras, sente inevitável

    Necessidade de também ser fera.

    Toma um fósforo. Acende teu cigarro!

    O beijo, amigo, é a véspera do escarro,

    A mão que afaga é a mesma que apedreja.

    Se a alguém causa inda pena a tua chaga,

    Apedreja essa mão vil que te afaga,

    Escarra nessa boca que te beija!

    abraços

  • Volúpia imortal

    Cuidas que o genesíaco prazer,

    Fome do átomo e eurítmico transporte

    De todas as moléculas, aborte

    Na hora em que a nossa carne apodrecer?!

    Não! Essa luz radial, em que arde o Ser,

    Para a perpetuação da Espécie forte,

    Tragicamente, ainda depois da morte,

    Dentro dos ossos, continua a arder!

    Surdos destarte a apóstrofes e brados,

    Os nossos esqueletos descamados,

    Em convulsivas contorções sensuais,

    Haurindo o gás sulfídrico das covas,

    Com essa volúpia das ossadas novas

    Hão de ainda se apertar cada vez mais!

  • PsicologiA DE UM VENCIDO

    Eu, filho do carbono e do amoníaco,

    Monstro de escuridão e rutilância,

    Sofro, desde a epigênesis da infância,

    A influência má dos signos do zodíaco.

    Profundíssimamente hipocondríaco,

    Êste ambiente me causa repugnância...

    Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia

    Que se escapa da boca de um cardíaco.

    Já o verme - este operário das ruínas -

    Que o sangue podre das carnificinas

    Come, e à vida em geral declara guerra,

    Anda a espreitar meus olhos para roê-los,

    E há-de deixar-me apenas os cabelos,

    Na frialdade inorgânica da terra!

    Augusto dos Anjos

  • logo vi!

    ...a mão que afaga

    é a mesma que apredeja!!!

  • Querida, acredito mais na amizade do que no amor.

    O amor carnal é oco, é satisfação pessoal pode até o parceiro não ficar satisfeito, que não tem importância.

    Se esse amor, que faz falta a todos os seres humanos, se complementar então ainda, sim, existe a mor verdadeiro

    Bjs

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