Camões tem poemas de amor?

Me mande algum

1 de cada!

nem repitam, se outros a sua frente já colocaram o mesmo poema tá?

não há precisão

Comments

  • Sim!

    várias!

    Deixo-te algumas:

    Soneto 11

    Alma minha gentil, que te partiste

    Alma minha gentil, que te partiste

    Tão cedo desta vida descontente,

    Repousa lá no Céu eternamente,

    E viva eu cá na terra sempre triste.

    Se lá no assento etéreo, onde subiste,

    Memória desta vida se consente,

    Não te esqueças daquele amor ardente

    Que já nos olhos meus tão puro viste.

    E se vires que pode merecer-te

    Alguma cousa a dor que me ficou

    Da mágoa, sem remédio, de perder-te,

    Roga a Deus, que teus anos encurtou,

    Que tão cedo de cá me leve a ver-te,

    Quão cedo de meus olhos te levou.

    Soneto 14

    Amor é um fogo que arde sem se ver

    Amor é um fogo que arde sem se ver,

    É ferida que dói, e não se sente;

    É um contentamento descontente,

    É dor que desatina sem doer.

    É um não querer mais que bem querer;

    É um andar solitário entre a gente;

    É nunca contentar-se de contente;

    É um cuidar que ganha em se perder.

    É querer estar preso por vontade;

    É servir a quem vence, o vencedor;

    É ter com quem nos mata, lealdade.

    Mas como causar pode seu favor

    Nos corações humanos amizade,

    Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

    Soneto 21

    Enquanto quis Fortuna que tivesse

    Enquanto quis Fortuna que tivesse

    Esperança de algum contentamento,

    O gosto de um suave pensamento

    Me fez que seus efeitos escrevesse.

    Porém, temendo Amor que aviso desse

    Minha escritura a algum juízo isento,

    Escureceu-me o engenho co tormento,

    Pera que seus enganos não dissesse.

    Soneto 5

    Ó vos que Amor obriga a ser sujeitos

    A diversas vontades! Quando lerdes

    Num breve livro casos tão diversos,

    Verdades puras são e não defeitos;

    E sabei que, segundo o amor tiverdes,

    Tereis o entendimento de meus versos.

    Eu cantarei de amor tão docemente

    Eu cantarei de amor tão docemente,

    Por uns têrmos em si tão concertados,

    Que dois mil acidentes namorados

    Faça sentir ao peito que não sente.

    Farei que amor a todos avivente,

    Pintando mil segredos delicados,

    Brandas iras, suspiros magoados,

    Temerosa ousadia e pena ausente.

    Também, Senhora, do desprêzo honesto

    De vossa vista branda e rigorosa,

    Contentar-me-ei dizendo a menor parte.

    Porém, para cantar de vosso gesto

    A composição alta e milagrosa,

    Aqui falta saber, engenho e arte.

    espero ter ajudado...

  • AQUELES CLAROS OLHOS QUE CHORANDO

    Aqueles claros olhos que chorando

    Ficavam, quando deles me partia,

    Agora que farão? Quem mo diria?

    Se porventura estão em mim cuidando?

    Se terão na memória, como ou quando

    Deles me vim tão longe de alegria?

    Ou estarão aquele alegre dia

    Que torne a vê-los, na alma figurando?

    Se contarão as horas e os momentos,

    Se acharão num momento muitos anos?

    Se falarão coas aves e cos ventos?

    oh, bem-aventurados fingimentos,

    Que nesta ausência tão doces enganos

    Sabeis fazer aos tristes pensamentos!

    Camões

  • Transforma-se o amador na cousa amada,

    Por virtude do muito imaginar;

    Não tenho logo mais que desejar,

    Pois em mim tenho a parte desejada.

    Se nela está minha alma transformada,

    Que mais deseja o corpo de alcançar?

    Em si sómente pode descansar,

    Pois consigo tal alma está liada.

    Mas esta linda e pura semideia,

    Que, como o acidente em seu sujeito,

    Assim co'a alma minha se conforma,

    Está no pensamento como ideia;

    [E] o vivo e puro amor de que sou feito,

    Como matéria simples busca a forma.

    Luís de Camões

    Espero que goste deste. Um abraço

  • Espero que goste desse:

    Sete anos de pastor Jacó servia

    Sete anos de pastor Jacó servia

    Labão, pai de Raquel serrana bela,

    Mas não servia ao pai, servia a ela,

    Que a ela só por prêmio pertendia.

    Os dias na esperança de um só dia

    Passava, contentando-se com vê-la:

    Porém o pai usando de cautela,

    Em lugar de Raquel lhe deu a Lia.

    Vendo o triste pastor que com enganos

    Assim lhe era negada a sua pastora,

    Como se a não tivera merecida,

    Começou a servir outros sete anos,

    Dizendo: Mais servira, se não fora

    Para tão longo amor tão curta a vida.

  • Busque Amor novas artes, novo engenho,

    Para matar-me, e novas esquivanças;

    Que não pode tirar-me as esperanças,

    Que mal me tirará o que eu não tenho.

    Olhai de que esperanças me mantenho!

    Vede que perigosas seguranças!

    Que não temo contrastes nem mudanças,

    Andando em bravo mar, perdido o lenho.

    Mas, conquanto não pode haver desgosto

    Onde esperança falta, lá me esconde

    Amor um mal, que mata e não se vê.

    Que dias há que n'alma me tem posto

    Um não sei quê, que nasce não sei onde,

    Vem não sei como, e dói não sei porquê.

  • QUEM DIZ QUE O AMOR É FALSO OU ENGANOSO

    Luís Vaz de Camões

    Quem diz que Amor é falso ou enganoso,

    Ligeiro, ingrato, vão desconhecido,

    Sem falta lhe terá bem merecido

    Que lhe seja cruel ou rigoroso.

    Amor é brando, é doce, e é piedoso.

    Quem o contrário diz não seja crido;

    Seja por cego e apaixonado tido,

    E aos homens, e inda aos Deuses, odioso.

    Se males faz Amor em mim se vêem;

    Em mim mostrando todo o seu rigor,

    Ao mundo quis mostrar quanto podia.

    Mas todas suas iras são de Amor;

    Todos os seus males são um bem,

    Que eu por todo outro bem não trocaria.

  • Karla Bastos,

    Pode um desejo imenso

    Pode um desejo imenso

    arder no peito tanto

    que à branda e a viva alma o fogo intenso

    lhe gaste as nódoas do terreno manto,

    e purifique em tanta alteza o esprito

    com olhos imortais

    que faz que leia mais do que vê escrito.

    Que a flama que se acende

    alto tanto alumia

    que, se o nobre desejo ao bem se estende

    que nunca viu, a sente claro dia;

    e lá vê do que busca o natural,

    a graça, a viva cor,

    noutra espécie milhor que a corporal.

    Pois vós, ó claro exemplo

    de viva fermosura,

    que de tão longe cá noto e contemplo

    n'alma, que este desejo sobe e apura:

    não creais que não vejo aquela imagem

    que as gentes nunca vêem,

    se de humanos não têm muita ventagem.

    Que, se os olhos ausentes

    não vêem a compassada

    proporção, que das cores excelentes

    de pureza e vergonha é variada;

    da qual a Poesia, que cantou

    até aqui só pinturas,

    com mortais fermosuras igualou;

    se não vêem os cabelos

    que o vulgo chama de ouro,

    e se não vêem os claros olhos belos,

    de quem cantam que são do Sol tesouro,

    e se não vêem do rosto as excelências,

    a quem dirão que deve

    rosa, cristal e neve as aparências;

    vêem logo a graça pura,

    a luz alta e severa,

    que é raio da divina fermosura

    que n'alma imprime e fora reverbera,

    assi como cristal do Sol ferido,

    que por fora derrama

    a recebida flama, esclarecido.

    E vêem a gravidade

    com a viva alegria,

    que misturada tem, de qualidade

    que üa da outra nunca se desvia;

    nem deixa üa de ser arreceada

    por leda e por suave,

    nem outra, por ser grave, muito amada.

    E vêem do honesto siso

    os altos resplandores,

    temperados co doce e ledo riso,

    a cujo abrir abrem no campo as flores;

    as palavras discretas e suaves,

    das quais o movimento

    fará deter o vento e as altas aves;

    dos olhos o virar,

    que torna tudo raso,

    do qual não sabe o engenho divisar

    se foi por artifício, ou feito acaso;

    da presença os meneios e a postura,

    o andar e o mover-se,

    donde pode aprender-se fermosura.

    Aquele não sei que,

    que aspira não sei como,

    que, invisível saindo, a vista o vê,

    mas para o compreender não acha tomo;

    o qual toda a Toscana poesia,

    que mais Febo restaura,

    em Beatriz nem em Laura nunca via;

    em vos a nossa idade,

    Senhora, o pode ver,

    se engenho e ciência e habilidade

    igual a fermosura vossa der,

    como eu vi no meu longo apartamento,

    qual em ausência a vejo.

    Tais asas dá o desejo ao pensamento!

    Pois se o desejo afina

    üa alma acesa tanto

    que por vós use as partes da divina,

    por vós levantarei não visto canto

    que o Bétis me ouça, e o Tibre me levante;

    que o nosso claro Tejo

    envolto um pouco vejo e dissonante.

    O campo não o esmaltam

    flores, mas só abrolhos

    o fazem feio; e cuido que lhe faltam

    ouvidos para mim, para vós olhos.

    Mas faça o que quiser o vil costume;

    que o sol, que em vós está,

    na escuridão dará mais claro lume.

    Luís Vaz de Camões

    Um abraço, Helda

  • Soneto - CCXLVII

    Quem diz que Amor é falso ou enganoso,

    Ligeiro, ingrato, vão, desconhecido,

    Sem falta lhe terá bem merecido

    que lhe seja cruel ou rigoroso.

    Amor é brando, é dose e é piedoso,

    Quem o contrário diz não seja crido;

    Seja cego e apaixonado tido,

    E aos homens, e inda aos deuses, odioso.

    Se males fazes Amor, em mim se vêem;

    Em mim mostrando todo o seu rigor,

    Ao mundo quis mostrar quanto podia.

    Mas todas suas iras são de Amor;

    Todos estes seus amles são um bem,

    Que eu por todo outro bem não trocaria.

    Soneto - CCCXXXIII

    Que fiz, Amor, que tão mal me tratas,

    Não sendo todo teu, que mal me queres,

    Que se por teu me tens, porque me feres,

    E a minha triste vida desbaratas?

    Se com a fera ninfa te encontras,

    E de sua esp'ranças não diferes,

    A quem me queixarei do que fizeres,

    Que vida me darás se tu me matas?

    E tu despiedosa honra e fama,

    Respondes com mortal esquecimento,

    Não tens a tanta fé algum respeito!

    Mas já que tu não vês a quem te ama,

    ão vindo, não terás conhecimento

    De quem sempre contino por ti chama.

    (Ms., fl. 139, v.)

  • karla, tem um lindo muito conhecido!!!

    Amor é fogo que arde sem se ver

    Amor é fogo que arde sem se ver;

    É ferida que dói e não se sente;

    É um contentamento descontente;

    É dor que desatina sem doer;

    É um não querer mais que bem querer;

    É solitário andar por entre a gente;

    É nunca contentar-se de contente;

    É cuidar que se ganha em se perder;

    É querer estar preso por vontade;

    É servir a quem vence, o vencedor;

    É ter com quem nos mata lealdade.

    Mas como causar pode seu favor

    Nos corações humanos amizade,

    Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

    Luís de Camões

    abraços

Sign In or Register to comment.