A Revolução Industrial começou em Inglaterra no final do século XVIII, com a aplicação de inovações técnicas nos campos da indústria e dos transportes e com a descoberta de uma inovadora fonte de energia produzida pelo vapor, que se revelou verdadeiramente revolucionária. A sua aplicação nos trabalhos industriais e em meios de transportes sobre carris e na navegação veio alterar profundamente os sistemas produtivos e a vida dos homens.
As três grandes Revoluções Industriais andaram sempre ligadas à descoberta de novas fontes de energia. Se no final do século XVIII e início do século XIX as novidades eram a máquina a vapor e o carvão, na Segunda Revolução Industrial, final do século XIX, inícios do século XX, a grande conquista foi a electricidade e o motor de explosão; enquanto que nos nossos dias alguns países se encontram numa terceira fase desta revolução, caracterizada pelo uso da energia nuclear e das chamadas ''energias alternativas".
A Inglaterra foi o país pioneiro, que liderou todo este processo de renovação tecnológica, porque nesse território se concentraram um conjunto de factores favoráveis a esta mutação tão profunda, que implicou uma mudança radical da vivência de muitas pessoas em todo o Mundo.
Tudo começou por volta de 1780, o ciclo de profundas transformações técnicas e tecnológicas a que se deu o nome de Revolução Industrial, como se viu, desencadeado pela introdução da máquina a vapor, aperfeiçoada por James Watt e pela conjugação de uma série de condicionalismos favoráveis: visão política, abundância de capitais, mão-de-obra numerosa, disponibilidade de matérias-primas, recursos naturais, amplos mercados.
Na Inglaterra o arranque da Revolução Industrial foi precoce, porque a burguesia britânica era muito activa, talvez mais activa do que as suas congéneres europeias, por ser favorecida por um regime político-liberal, por se ter desenvolvido através da acumulação de riqueza nos domínios coloniais, e por reinvestir os lucros em investimentos que lhe garantiam a multiplicação do seu capital, ao contrário, por exemplo, da burguesia portuguesa, cujo sonho era adquirir propriedades e comprar títulos nobiliárquicos para tentar igualar-se à nobreza.
O segundo factor que facilitou o desenvolvimento da economia inglesa foi a disponibilidade de uma mão-de-obra muito numerosa, resultante do êxodo rural provocado pelo movimento das enclosures. Trata-se, no fundo, de estabelecer uma relação entre a chamada revolução agrícola e a Revolução Industrial. De qualquer modo, este tema da revolução agrícola é polémico e bastante debatido, não se chegando a consensos. A corrente historiográfica actual considera que não terá sido inteiramente por acção dessa revolução agrícola que se libertou mão-de-obra, até porque a agricultura só se desenvolveu posteriormente à expansão industrial; considera, além disso, que é exactamente o desenvolvimento industrial o grande factor de atracção de mão-de-obra rural para os novos centros industriais. A riqueza em matérias-primas, provenientes da metrópole (ferro, hulha e lã) e das colónias (algodão e madeira) também funcionou como factor motivador deste precoce desenvolvimento, ainda mais porque a revolução das técnicas e dos processos agrícolas na Inglaterra fornecia uma parte dessas matérias e canalizava dinheiro e pessoas para outros sectores da economia. Uma palavra ainda para a amplitude do mercado britânico, condicionalismo essencial para o vingar deste processo. Desde logo, a formação do mercado interno, de considerável dimensão, sobretudo a partir do momento em que os governos da Coroa investiram enormes recursos na construção de canais ligando os principais rios ingleses e formando assim uma vasta rede de comunicações facilitadora de um mercado nacional. Por outro lado, não podemos esquecer que a Grã-Bretanha deste tempo se tornara o maior império colonial do Mundo. Com isso, os britânicos beneficiavam, confortavelmente, da dupla dimensão que as colónias desempenhavam no processo de industrialização: por um lado eram mercados fornecedores de matérias-primas; por outro funcionavam como mercados onde a metrópole colocava produtos transformados com lucros compensadores.
O crescimento económico inglês assentou na aplicação prática de inventos como a lançadeira volante, a fiadora mecânica, o tear mecânico e a máquina a vapor, um dos principais inventos desta revolução, que surgiu na Inglaterra. O desenvolvimento tecnológico, apoiado na modernização das ciências, acarretou um salto qualitativo e quantitativo na produção industrial, que a pouco e pouco se afastou dos processos produtivos tradicionais.
Os sectores de arranque da Revolução Industrial foram por um lado a indústria têxtil, sobretudo a indústria algodoeira, um sector económico que não requer muito investimento capital e técnico, e por outro a indústria metalúrgica, o segundo sector de arranque, entre as décadas de 30 e 40, ligado às exigências das comunicações e
Antes da Revolução Industrial, a atividade produtiva era artesanal e manual (daí o termo manufatura), no máximo com o emprego de algumas máquinas simples. Dependendo da escala, grupos de artesãos podiam se organizar e dividir algumas etapas do processo, mas muitas vezes um mesmo artesão cuidava de todo o processo, desde a obtenção da matéria-prima até à comercialização do produto final. Esses trabalhos eram realizados em oficinas nas casas dos próprios artesãos e os profissionais da época dominavam muitas (se não todas) etapas do processo produtivo.
Com a Revolução Industrial os trabalhadores perderam o controle do processo produtivo, uma vez que passaram a trabalhar para um patrão (na qualidade de empregados ou operários), perdendo a posse da matéria-prima, do produto final e do lucro. Esses trabalhadores passaram a controlar máquinas que pertenciam aos donos dos meios de produção os quais passaram a receber todos os lucros. O trabalho realizado com as máquinas ficou conhecido por maquinofatura.
Esse momento de passagem marca o ponto culminante de uma evolução tecnológica, econômica e social que vinha se processando na Europa desde a Baixa Idade Média, com ênfase nos países onde a Reforma Protestante tinha conseguido destronar a influência da Igreja Católica: Inglaterra, Escócia, Países Baixos, Suécia. Nos países fiéis ao catolicismo, a Revolução Industrial eclodiu, em geral, mais tarde, e num esforço declarado de copiar aquilo que se fazia nos países mais avançados tecnologicamente: os países protestantes.
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Antecedentes da Revolução Industrial
A Revolução Industrial começou em Inglaterra no final do século XVIII, com a aplicação de inovações técnicas nos campos da indústria e dos transportes e com a descoberta de uma inovadora fonte de energia produzida pelo vapor, que se revelou verdadeiramente revolucionária. A sua aplicação nos trabalhos industriais e em meios de transportes sobre carris e na navegação veio alterar profundamente os sistemas produtivos e a vida dos homens.
As três grandes Revoluções Industriais andaram sempre ligadas à descoberta de novas fontes de energia. Se no final do século XVIII e início do século XIX as novidades eram a máquina a vapor e o carvão, na Segunda Revolução Industrial, final do século XIX, inícios do século XX, a grande conquista foi a electricidade e o motor de explosão; enquanto que nos nossos dias alguns países se encontram numa terceira fase desta revolução, caracterizada pelo uso da energia nuclear e das chamadas ''energias alternativas".
A Inglaterra foi o país pioneiro, que liderou todo este processo de renovação tecnológica, porque nesse território se concentraram um conjunto de factores favoráveis a esta mutação tão profunda, que implicou uma mudança radical da vivência de muitas pessoas em todo o Mundo.
Tudo começou por volta de 1780, o ciclo de profundas transformações técnicas e tecnológicas a que se deu o nome de Revolução Industrial, como se viu, desencadeado pela introdução da máquina a vapor, aperfeiçoada por James Watt e pela conjugação de uma série de condicionalismos favoráveis: visão política, abundância de capitais, mão-de-obra numerosa, disponibilidade de matérias-primas, recursos naturais, amplos mercados.
Na Inglaterra o arranque da Revolução Industrial foi precoce, porque a burguesia britânica era muito activa, talvez mais activa do que as suas congéneres europeias, por ser favorecida por um regime político-liberal, por se ter desenvolvido através da acumulação de riqueza nos domínios coloniais, e por reinvestir os lucros em investimentos que lhe garantiam a multiplicação do seu capital, ao contrário, por exemplo, da burguesia portuguesa, cujo sonho era adquirir propriedades e comprar títulos nobiliárquicos para tentar igualar-se à nobreza.
O segundo factor que facilitou o desenvolvimento da economia inglesa foi a disponibilidade de uma mão-de-obra muito numerosa, resultante do êxodo rural provocado pelo movimento das enclosures. Trata-se, no fundo, de estabelecer uma relação entre a chamada revolução agrícola e a Revolução Industrial. De qualquer modo, este tema da revolução agrícola é polémico e bastante debatido, não se chegando a consensos. A corrente historiográfica actual considera que não terá sido inteiramente por acção dessa revolução agrícola que se libertou mão-de-obra, até porque a agricultura só se desenvolveu posteriormente à expansão industrial; considera, além disso, que é exactamente o desenvolvimento industrial o grande factor de atracção de mão-de-obra rural para os novos centros industriais. A riqueza em matérias-primas, provenientes da metrópole (ferro, hulha e lã) e das colónias (algodão e madeira) também funcionou como factor motivador deste precoce desenvolvimento, ainda mais porque a revolução das técnicas e dos processos agrícolas na Inglaterra fornecia uma parte dessas matérias e canalizava dinheiro e pessoas para outros sectores da economia. Uma palavra ainda para a amplitude do mercado britânico, condicionalismo essencial para o vingar deste processo. Desde logo, a formação do mercado interno, de considerável dimensão, sobretudo a partir do momento em que os governos da Coroa investiram enormes recursos na construção de canais ligando os principais rios ingleses e formando assim uma vasta rede de comunicações facilitadora de um mercado nacional. Por outro lado, não podemos esquecer que a Grã-Bretanha deste tempo se tornara o maior império colonial do Mundo. Com isso, os britânicos beneficiavam, confortavelmente, da dupla dimensão que as colónias desempenhavam no processo de industrialização: por um lado eram mercados fornecedores de matérias-primas; por outro funcionavam como mercados onde a metrópole colocava produtos transformados com lucros compensadores.
O crescimento económico inglês assentou na aplicação prática de inventos como a lançadeira volante, a fiadora mecânica, o tear mecânico e a máquina a vapor, um dos principais inventos desta revolução, que surgiu na Inglaterra. O desenvolvimento tecnológico, apoiado na modernização das ciências, acarretou um salto qualitativo e quantitativo na produção industrial, que a pouco e pouco se afastou dos processos produtivos tradicionais.
Os sectores de arranque da Revolução Industrial foram por um lado a indústria têxtil, sobretudo a indústria algodoeira, um sector económico que não requer muito investimento capital e técnico, e por outro a indústria metalúrgica, o segundo sector de arranque, entre as décadas de 30 e 40, ligado às exigências das comunicações e
Antes da Revolução Industrial, a atividade produtiva era artesanal e manual (daí o termo manufatura), no máximo com o emprego de algumas máquinas simples. Dependendo da escala, grupos de artesãos podiam se organizar e dividir algumas etapas do processo, mas muitas vezes um mesmo artesão cuidava de todo o processo, desde a obtenção da matéria-prima até à comercialização do produto final. Esses trabalhos eram realizados em oficinas nas casas dos próprios artesãos e os profissionais da época dominavam muitas (se não todas) etapas do processo produtivo.
Com a Revolução Industrial os trabalhadores perderam o controle do processo produtivo, uma vez que passaram a trabalhar para um patrão (na qualidade de empregados ou operários), perdendo a posse da matéria-prima, do produto final e do lucro. Esses trabalhadores passaram a controlar máquinas que pertenciam aos donos dos meios de produção os quais passaram a receber todos os lucros. O trabalho realizado com as máquinas ficou conhecido por maquinofatura.
Esse momento de passagem marca o ponto culminante de uma evolução tecnológica, econômica e social que vinha se processando na Europa desde a Baixa Idade Média, com ênfase nos países onde a Reforma Protestante tinha conseguido destronar a influência da Igreja Católica: Inglaterra, Escócia, Países Baixos, Suécia. Nos países fiéis ao catolicismo, a Revolução Industrial eclodiu, em geral, mais tarde, e num esforço declarado de copiar aquilo que se fazia nos países mais avançados tecnologicamente: os países protestantes.