(Apresentação de Francisco Achcar na edição paradidática do Colégio Objetivo, 1996)
O cortiço foi publicado em 1890, em meio à atividade febril de produção literária a que Aluísio de Azevedo se viu obrigado, em seu projeto de profissionalizar-se como escritor. Teve de escrever muitos romances e contos para atender a pedidos de editores, que procuravam corresponder ao gosto do público leitor, um gosto marcado pelo pior tipo de romantismo. Por isso, produziu muita literatura inferior, baixamente romântica, estilisticamente descuidada. Mas O cortiço tem situação inteiramente à parte nessa produção numerosa e quase toda sem importância, pois neste livro Aluísio põe em prática os princípios naturalistas, em que acreditava, e toda sua capacidade artística.
O romance é de nítido recorte sociológico, representando as relações entre o elemento português, que explora o Brasil em sua ânsia de enriquecimento, e o elemento brasileiro, apresentado como inferior e vilmente explorado pelo português. A obra revela a aceitação de idéias filosóficas e científicas do tempo: aparecem, diluídas no livro, noções de determinismo e de evolucionismo.
Na elaboração de O cortiço, Aluísio de Azevedo seguiu, como em Casa de Pensão a técnica naturalista de Zola. Visitou inúmeras habitações coletivas no Rio; interrogou lavadeiras, capoeiras, vendedores, cavouqueiros; observou-lhes a linguagem; escutou atento os ruídos coletivos dos cortiços; sentiu-lhes o cheiro (como na obra de Zola, as imagens olfativas têm importância na fixação do ambiente. Segundo um processo criado pelos naturalistas); viu-lhes a promiscuidade e notou que as coletividades, apesar de divergirem, são ligadas por um estranho sentimento de classe, que as une, nos momentos mais críticos, quando são esquecidos os ódios e as divergências. Com toda essa “documentação”, criou o enredo em torno de um problema social que se tornava mais e mais grave, com a formação de grandes massas urbanas proletárias, constituídas em boa parte pelos operários dos primórdios da industrialização do país.
Duas grandes qualidades devem ser observadas no estilo de O cortiço: uma é a grande capacidade de representação visual do autor, certamente relacionada com sua habilidade para o desenho (como vimos, Aluísio exerceu, em certa época, a atividade de caricaturista) e que faz que tenhamos freqüentemente, ao ler o romance, a impressão de estarmos assistindo a um filme; a outra é a sua formidável habilidade para dar vida à multidão, ao grande grupo humano dos moradores do cortiço. De fato, vemos, no romance, essa coletividade pulsar, reagir, alegrando-se, deprimindo-se ou irando-se – e ocupando o lugar de personagem central da obra. Desse grupo variado e animado destacam-se alguns tipos, a que o romancista soube atribuir uma individualidade marcante. Entre estes últimos, é inesquecível a figura de Rita Baiana, a bela, sensual, generosa e graciosa mulata, que se tornou uma das personagens mais notáveis da literatura brasileira.
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(Apresentação de Francisco Achcar na edição paradidática do Colégio Objetivo, 1996)
O cortiço foi publicado em 1890, em meio à atividade febril de produção literária a que Aluísio de Azevedo se viu obrigado, em seu projeto de profissionalizar-se como escritor. Teve de escrever muitos romances e contos para atender a pedidos de editores, que procuravam corresponder ao gosto do público leitor, um gosto marcado pelo pior tipo de romantismo. Por isso, produziu muita literatura inferior, baixamente romântica, estilisticamente descuidada. Mas O cortiço tem situação inteiramente à parte nessa produção numerosa e quase toda sem importância, pois neste livro Aluísio põe em prática os princípios naturalistas, em que acreditava, e toda sua capacidade artística.
O romance é de nítido recorte sociológico, representando as relações entre o elemento português, que explora o Brasil em sua ânsia de enriquecimento, e o elemento brasileiro, apresentado como inferior e vilmente explorado pelo português. A obra revela a aceitação de idéias filosóficas e científicas do tempo: aparecem, diluídas no livro, noções de determinismo e de evolucionismo.
Na elaboração de O cortiço, Aluísio de Azevedo seguiu, como em Casa de Pensão a técnica naturalista de Zola. Visitou inúmeras habitações coletivas no Rio; interrogou lavadeiras, capoeiras, vendedores, cavouqueiros; observou-lhes a linguagem; escutou atento os ruídos coletivos dos cortiços; sentiu-lhes o cheiro (como na obra de Zola, as imagens olfativas têm importância na fixação do ambiente. Segundo um processo criado pelos naturalistas); viu-lhes a promiscuidade e notou que as coletividades, apesar de divergirem, são ligadas por um estranho sentimento de classe, que as une, nos momentos mais críticos, quando são esquecidos os ódios e as divergências. Com toda essa “documentação”, criou o enredo em torno de um problema social que se tornava mais e mais grave, com a formação de grandes massas urbanas proletárias, constituídas em boa parte pelos operários dos primórdios da industrialização do país.
Duas grandes qualidades devem ser observadas no estilo de O cortiço: uma é a grande capacidade de representação visual do autor, certamente relacionada com sua habilidade para o desenho (como vimos, Aluísio exerceu, em certa época, a atividade de caricaturista) e que faz que tenhamos freqüentemente, ao ler o romance, a impressão de estarmos assistindo a um filme; a outra é a sua formidável habilidade para dar vida à multidão, ao grande grupo humano dos moradores do cortiço. De fato, vemos, no romance, essa coletividade pulsar, reagir, alegrando-se, deprimindo-se ou irando-se – e ocupando o lugar de personagem central da obra. Desse grupo variado e animado destacam-se alguns tipos, a que o romancista soube atribuir uma individualidade marcante. Entre estes últimos, é inesquecível a figura de Rita Baiana, a bela, sensual, generosa e graciosa mulata, que se tornou uma das personagens mais notáveis da literatura brasileira.
Ou, esse livro foi indicado para o processo seletivo da UFG para o final deste ano
Estou me preparando para ele
Tenho duas analises profundas da obra, me ajudou muito
Só que é muito grande, tipo 140 paginas =D
Se você quiser eu te envio ela por e-mail, como faço?