O que é mais importante? O jornalista ou o diploma?
Ontem, por 8 votos a favor e apenas um contra, o Superior Tribunal Federal (STF) aprovou como “inconstitucional a exigência de diploma para o exercício do jornalismo”. Os ministros assim procederam, por considerarem a chamada Lei de Imprensa como sendo retrógrada e ainda carregando ranços do regime de exceção instituído no regime militar, que teve como um dos principais funcionamentos desqualificar vozes e letras de resistência à ditadura.
Por outro lado, a Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj) aparece como a principal oposição à inconstitucionalidade da exigência do diploma, para a qual o principal argumento é o de preservar a qualidade no jornalismo que é oferecido à população.
Sabe-se que alguns dos ministros que votaram a favor falando em “liberdade de expressão” pouco são afeitos a colocá-la em prática. Discurso vazio, simulacro linguístico fundado na redundância da informação pela informação. Como Gilmar “Dantas” Mendes, mais afeito a uma Folha, um Estadão, uma Globo. Toda a mídia sequelada, veiculadora da notícia cristalizada e sem novidade.
Levando-se em conta ainda a necessidade de muitos jornalistas de salvar o bodó e o pirão, para este bloguinho, no entanto, a questão real está ocorrendo em outro lugar, que o lugar do conceito de jornalista e jornalismo. Ser jornalista é fazer jornalismo. E fazer jornalismo é tratá-lo enquanto função cívica, conforme o jornalista Ignacio Ramonet.
Naqueles tempos que a Lei de Imprensa foi instituída (AI-5), a posição (aí no sentido sartrista) de um Vladimir Herzog, em seu trabalho como jornalista engajado, não foi suficiente para manter sua integridade física, mas nem a brutalidade da ditadura pode jamais silenciá-lo. Enquanto isso, Roberto Marinho (tinha diploma de jornalismo?), encravado com os militares ditadores, pintava todas as páginas d’O Globo na cor marrom, apagando qualquer possibilidade de aparecimento do homem real, sem a mínima possibilidade de cidadania jornalística, tendo ou não diploma seus não-jornalistas.
Na tentativa de manipular com seus decalques e seus enunciados ecolálicos, para que serve o diploma de Miriam Leitão, Clóvis Rossi, Reinaldo Azevedo, Eliane Catanhede, por exemplo, senão para tentar impor uma ditadura da informação distorcida? Império da desinformação generalizada. Que importância há no fato de um Mainardi não ter um diploma? Talvez servisse para o seu ‘calunismo’ social requentar-se de maiores imbecilidades/amenidades. Muito diferente de um Mino Carta, um Leandro Fortes, Marilene Felinto, que fazem passar pelo jornalismo todas aquelas características do bom jornalismo que nos fala o teatrólogo Qorpo-Santo.
Já entre o que Eduardo Guimarães chama de Movimento dos Sem-Mídia, e que este bloguinho, numa proximidade democrática, chama de Mídia-Minoria, no sentido filosofante de minoria, enquanto produção constante, contínua e intensiva, apenas alguns são diplomados no jornalismo, mas na onda blogueira, com todas as suas possibilidades de curvas, que destoam da Mídia-Maioria e, numa nova forma de verticalização, saltam e criam encontros inesperados para além do constituído, dos dados/fatos anemizados/anemizantes de real, provocando microfissuras, microrrevoluções, e fazendo surgir o Novo em palavras e imagens, independente de ter-se ou não ‘deploma’.
Há os que não tem diploma de Jornalismo e são jornalistas.
Há os que não tem diploma de Jornalismo e não são jornalistas.
Há os que tem diploma de Jornalismo e não são jornalistas.
Há os que tem diploma de Jornalismo e são jornalista
Comments
O QUE É MAIS IMPORTANTE É O JORNALISTA....
ASSIM COMO MAIS IMPORTANTE É :
Aquele que sabe ler e escrever;
aquele que tem conhecimento e cultura;
aquele que sabe teorizar, pesquisar, e praticar qualquer profissão ou ramo do conhecimento humano;
aquele que sabe filosofar, e não o que sabe discorrer sobre os filósofos....
O QUE É MAIS IMPORTANTE É O CONTEÚDO , E NÃO A FORMA !!
O DIPLOMA É APENAS UM PEDAÇO DE PAPEL que retrata uma sociedade bem organizada e oferece boas possibilidades de seu portador ter competências. Porém, inviabilizar o exercício de competências natas, ou auto-adquiridas, é um franco cerceamento das liberdades e uma demonstração de parca inteligência ao selecionar os mais aptos.
Parabéns p/ sua brilhante abordagem, caro colega Gato Preto!
Realmente uma questão super polêmica! Acho que o Jornalismo
evidentemente é muito mais significante do que o Diploma. No meu
caso, que gosto de escrever Artigos na área de Saúde Mental, me
deixa mais à vontade de oferecer meu trabalho literário aos Jornais e Revistas, sem achar que estou "invadindo" o campo alheio. Valeu!
tudo bem que se abram portas, mas acho fundamental a essa altura que haja de fato alguma vantagem para aqueles que cursaram ou ainda cursam jornalismo.
à importante valorizar aqueles que investiram 5 anos da vida para adquirir essa formação.
NÃO EXISTE JORNALISMO.
O QUE EXISTE Ã A INDÃSTRIA DA NOTÃCIA.
Ambos são inúteis as necessidades humanas.