O Sistema Métrico Decimal é, talvez, a mais valiosa herança científica que nos deixou a Revolução Francesa. Não só o conceito é genial, como teve o êxito de ter sido aceite, praticamente, por todos os países do mundo. A Grã-Bretanha tem resistido à sua introdução mas julga-se que, antes do fim do século, venha a adquirir-se naquele país o arroz ao quilo e a gasolina ao litro.
Tudo começou quando, em França, o deputado Talleyrand, em Março de 1790, propôs à Assembleia Nacional, a constituição de um sistema unificado de
Relógio com mostrador de dez horas. (Musée International D' Horlogerie Ville de la Chaux-de-Fonds, Suiça.)
pesos e medidas que pusesse cobro à enorme confusão que, naquele país existia no que respeita a unidades de medida.
Havia mais de 800, mas o pior é que muitas delas tendo nomes iguais os seus valores diferiam de povoação para povoação.
A proposta de Talleyrand foi aprovada e a Assembleia confiou o estudo à Academia das Ciências, dando-lhe seis meses para a executar, de modo a que o sistema "não tivesse nada de arbitrário nem de particular, à situação de algum país do globo".
O estudo foi confiado a uma comissão constituída por notáveis sábios que consideraram três hipóteses para definição da unidade de comprimento:
1) o comprimento de um pêndulo batendo um segundo na latitude de 45º,
2) uma fracção do perímetro do equador,
3) uma fracção do comprimento do meridiano terrestre, tendo escolhido esta última hipótese e logo propondo que a unidade correspondesse à décima milionésima parte do quarto do meridiano. E que a unidade de peso fosse definida a partir da unidade de volume quando cheia de água destilada à temperatura de zero graus centígrados.
Estabelecido o princípio havia que determinar o exacto comprimento do meridiano. Para o efeito, por decreto de 26 de Março de 1791, foi confiado este trabalho a Jean-Baptista Dellambre e Pierre-François-André Méchain que, em meados do ano seguinte iniciaram os trabalhos a partir, respectivamente, de Dunquerque e Barcelona, pois foi considerado que esta extensão era suficiente para extrapolar o valor de todo o meridiano.
Os trabalhos geodésicos demoraram, especialmente, devido ao estado de agitação política em que se encontrava o país. Por esta razão, foi usado provisoriamente o comprimento do meridiano calculado alguns anos antes (1740) por La Caille, dado que só no Outono de 1798 é que Dellambre e Méchain fecharam a triangulação em Carcassone. Constatou-se que o valor do metro, agora calculado, só diferia do valor provisório de apenas 1/3 de milímetro.
Em 1799 são fabricados os padrões do metro e do quilograma e legalizados pela lei de 10 de Dezembro, deste mesmo ano.
Não foi fácil a introdução do sistema em França, aliás não seria também nos países que foram aderindo ao longo dos tempos. De facto, os novos nomes das unidades e a divisão decimal que, apesar de tornar mais fácil a operação, era diferente da que era hábito usar-se, criavam grandes dificuldades aos utilizadores. É por isso que um decreto napoleónico de 12 de Fevereiro de 1812, autoriza o uso de diferentes terminologias prevendo novas equivalências. A situação manteve-se até 1840 quando, com as mentalidades mais evoluídas, foi possível pôr de facto o sistema a funcionar pela lei de 4 de Julho de 1837.
A partir desta data, o governo francês faz esforços no sentido de introduzir o Sistema Métrico Decimal nos outros países, o que constituiu um longo processo que ainda não terminou. Entretanto, em 1869, constitui-se em França a Comissão Internacional do Metro, que estabelece os padrões do metro e do quilograma que serão fabricados em platina iridiada, considerada a liga mais adequada para o efeito. Actualmente, o metro é definido por métodos mais modernos. Desde 20 de Outubro de 1983, corresponde ao trajecto da luz no vácuo durante 1/299792458 do segundo.
Mas os sábios franceses não se ficaram por aqui. Conceberam muito mais. Por decreto de 24 de Novembro de 1793, é estabelecida uma nova era com início no dia do equinócio de Outono do ano anterior (22 de Setembro). É o ano I1 do Calendário Republicano. O ano era dividido em 12 meses de 30 dias, os meses divididos em três semanas de 10 dias. Os restantes cinco ou seis dias do ano (ditos complementares) eram feriados consagrados à comemoração de festas nacionais.
Este calendário, ao contrário do Sistema Métrico estava condenado ao insucesso. Era um calendário que nunca poderia ser aceite por outros países porque era nacional. O começo estava ligado à Revolução, os dias complementares correspondiam a feriados franceses e mesmo os nomes dos meses, inventados por um poeta dramático, foram concebidos de acordo com as estações climatéricas e, portanto, não funcionavam no hemisfério Sul. Mas, mesmo em França, este calendário teve vida curta. No dia 1 de Janeiro de 1806 era reposto o calendário gregoriano.
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O Sistema Métrico Decimal é, talvez, a mais valiosa herança científica que nos deixou a Revolução Francesa. Não só o conceito é genial, como teve o êxito de ter sido aceite, praticamente, por todos os países do mundo. A Grã-Bretanha tem resistido à sua introdução mas julga-se que, antes do fim do século, venha a adquirir-se naquele país o arroz ao quilo e a gasolina ao litro.
Tudo começou quando, em França, o deputado Talleyrand, em Março de 1790, propôs à Assembleia Nacional, a constituição de um sistema unificado de
Relógio com mostrador de dez horas. (Musée International D' Horlogerie Ville de la Chaux-de-Fonds, Suiça.)
pesos e medidas que pusesse cobro à enorme confusão que, naquele país existia no que respeita a unidades de medida.
Havia mais de 800, mas o pior é que muitas delas tendo nomes iguais os seus valores diferiam de povoação para povoação.
A proposta de Talleyrand foi aprovada e a Assembleia confiou o estudo à Academia das Ciências, dando-lhe seis meses para a executar, de modo a que o sistema "não tivesse nada de arbitrário nem de particular, à situação de algum país do globo".
O estudo foi confiado a uma comissão constituída por notáveis sábios que consideraram três hipóteses para definição da unidade de comprimento:
1) o comprimento de um pêndulo batendo um segundo na latitude de 45º,
2) uma fracção do perímetro do equador,
3) uma fracção do comprimento do meridiano terrestre, tendo escolhido esta última hipótese e logo propondo que a unidade correspondesse à décima milionésima parte do quarto do meridiano. E que a unidade de peso fosse definida a partir da unidade de volume quando cheia de água destilada à temperatura de zero graus centígrados.
Estabelecido o princípio havia que determinar o exacto comprimento do meridiano. Para o efeito, por decreto de 26 de Março de 1791, foi confiado este trabalho a Jean-Baptista Dellambre e Pierre-François-André Méchain que, em meados do ano seguinte iniciaram os trabalhos a partir, respectivamente, de Dunquerque e Barcelona, pois foi considerado que esta extensão era suficiente para extrapolar o valor de todo o meridiano.
Os trabalhos geodésicos demoraram, especialmente, devido ao estado de agitação política em que se encontrava o país. Por esta razão, foi usado provisoriamente o comprimento do meridiano calculado alguns anos antes (1740) por La Caille, dado que só no Outono de 1798 é que Dellambre e Méchain fecharam a triangulação em Carcassone. Constatou-se que o valor do metro, agora calculado, só diferia do valor provisório de apenas 1/3 de milímetro.
Em 1799 são fabricados os padrões do metro e do quilograma e legalizados pela lei de 10 de Dezembro, deste mesmo ano.
Não foi fácil a introdução do sistema em França, aliás não seria também nos países que foram aderindo ao longo dos tempos. De facto, os novos nomes das unidades e a divisão decimal que, apesar de tornar mais fácil a operação, era diferente da que era hábito usar-se, criavam grandes dificuldades aos utilizadores. É por isso que um decreto napoleónico de 12 de Fevereiro de 1812, autoriza o uso de diferentes terminologias prevendo novas equivalências. A situação manteve-se até 1840 quando, com as mentalidades mais evoluídas, foi possível pôr de facto o sistema a funcionar pela lei de 4 de Julho de 1837.
A partir desta data, o governo francês faz esforços no sentido de introduzir o Sistema Métrico Decimal nos outros países, o que constituiu um longo processo que ainda não terminou. Entretanto, em 1869, constitui-se em França a Comissão Internacional do Metro, que estabelece os padrões do metro e do quilograma que serão fabricados em platina iridiada, considerada a liga mais adequada para o efeito. Actualmente, o metro é definido por métodos mais modernos. Desde 20 de Outubro de 1983, corresponde ao trajecto da luz no vácuo durante 1/299792458 do segundo.
Mas os sábios franceses não se ficaram por aqui. Conceberam muito mais. Por decreto de 24 de Novembro de 1793, é estabelecida uma nova era com início no dia do equinócio de Outono do ano anterior (22 de Setembro). É o ano I1 do Calendário Republicano. O ano era dividido em 12 meses de 30 dias, os meses divididos em três semanas de 10 dias. Os restantes cinco ou seis dias do ano (ditos complementares) eram feriados consagrados à comemoração de festas nacionais.
Este calendário, ao contrário do Sistema Métrico estava condenado ao insucesso. Era um calendário que nunca poderia ser aceite por outros países porque era nacional. O começo estava ligado à Revolução, os dias complementares correspondiam a feriados franceses e mesmo os nomes dos meses, inventados por um poeta dramático, foram concebidos de acordo com as estações climatéricas e, portanto, não funcionavam no hemisfério Sul. Mas, mesmo em França, este calendário teve vida curta. No dia 1 de Janeiro de 1806 era reposto o calendário gregoriano.
Curiosa foi a tentativa de dividir o di
Depois de algum tempo sem inspiração para escrever, aqui estou de volta. Este é mais um post da séries "Coisas que não consigo entender". Desta vez estou me perguntar qual é a razão da insistência de americanos e ingleses utilizarem um sistema de medidas que já deveria ter virado peça de museu há muito tempo!
O sistema britânico, surgido em 1824 (1) e depois refinado em 1959, com seus pés, jardas, polegadas e afins não é nada prático. Peguemos as unidades de distância para exemplificar: 1 polegada tem 2,54cm, 1 pé tem 12 polegadas, 3 pés constituem uma jarda e uma milha contém 1760 jardas. Imaginem o trabalhão que dá converter de uma medida p/ outra. Para saber quantas polegadas formam uma milha, só com o auxÃlio de uma calculadora (em tempo: uma milha contém 63 360 polegadas). No Sistema Métrico Decimal tudo é tão simples: 1 metro contém 100 centÃmetros, 1 quilômetro contém 1000 metros. Agora: quantos centÃmetros formam um quilômetro? Essa é muito fácil: 100000 centÃmetros. E 3/4 de quilômetro: 75000 centÃmetros. Alguém aà se habilita a calcular quantas polegadas estão contidas em 3/4 de milha?
Havia um tempo em que as medidas de pé polegada e palmos eram tiradas do rei que estava governando naquele momento. Daà ao se mudarem os reis, mudavam-se também as medidas. Em 1958 a polegada foi fixada nos atuais 2,54 cm e o pé virou uma lancha de 30,5 cm (o que equivale a pé tamanho 47, aproximadamente).
Diversas tentativas de se adotar o Sistema Métrico Decimal nos E.U.A, Inglaterra e paÃses da Comunidade Britânica(2) já foram feitas (após a entrada da Inglaterra na União Européia, a adoção já é obrigatória), porém os habitantes destes paÃses ainda se pesam em libras, bebem cerveja em pint, abastecem o carro em galões e usam uma estranhÃssima unidade de temperatura onde 50 graus é frio(equivale a 10ºC) e a água ferve a 212 graus. Em 1999 os americanos perderam uma sonda espacial que coletaria dados em Marte. Descobriu-se que o software que comandava os movimentos do satélite foi alimentado com dados em metros, quilogramas, ou seja, as unidades do Sistema Métrico Decimal, mas também com dados em milhas e libras. Resultado: o brinquedinho de mais de 1 bilhão de dólares entrou em Marte numa trajetória totalmente errada e se espatifou ao tocar o solo do planeta vermelho. Tudo por causa desta insistência dos americanos em usar este sistema maluco!
Viva o Sistema Métrico Decimal, e obrigado, caros franceses, por tê-lo criado!
Para efetuar medidas é necessário fazer uma padronização, escolhendo unidades para cada grandeza. Antes da instituição do Sistema Métrico Decimal (no final do século XVIII, exatamente a 7 de Abril de 1795), as unidades de medida eram definidas de maneira arbitrária, variando de um paÃs para outro, dificultando as transações comerciais e o intercâmbio cientÃfico entre eles.
As unidades de comprimento, por exemplo, eram quase sempre derivadas das partes do corpo do rei de cada paÃs: a jarda, o pé, a polegada e outras. Até hoje, estas unidades são usadas nos Estados Unidos da América, embora definidas de uma maneira menos individual, mas através de padrões restritos à s dimensões do meio em que vivem e não mais as variáveis desses indivÃduos.
Até 1995, existiam duas unidades suplementares: o radiano e o esferorradiano (esterradiano, em Portugal). A partir de então, com uma resolução da CGPM (Conferência Geral de Pesos e Medidas), elas se tornam derivadas.