RESENHA SOBRE OS ÍDOLOS NA OBRA NOVUM ORGANUM DE FRANCIS BACON
A obra Novum Organum ou verdadeiras indicações acerca da interpretação da natureza, de Francis Bacon, é uma obra destinada a interpretação do conhecimento ou da natureza, através de uma nova visão da ciência fortalecida por uma educação do pensamento mobilizada pela experiência. Partindo do conhecimento humano como interprete da natureza, Bacon pretende que o mundo seja descoberto pela experimentação científica.
Apresentando sua obra em dois livros, ambos com o mesmo título Aforismos sobre a interpretação da natureza e o reino do homem, desenvolve sua argumentação pelo método do pensamento indutivo através de aforismos. Esses aforismos tem como objetivo o conhecimento da verdade de forma clara e manifesta.
Várias são as temáticas desenvolvidas nesses dois livros, entre elas se destaca a temática dos ídolos, que o autor começa por desenvolver no aforismo XXXI concluindo no aforismo LXX. Ele utiliza a ideia de ídolo como uma imagem falsa do conhecimento, produzindo noções equivocadas da verdade.
Os ídolos e noções falsas que ora ocupam o intelecto humano e nele se acham implantados não somente obstruem a ponto de ser difícil o acesso da verdade, como, mesmo depois de seu pórtico logrado e descerrado, poderão ressurgir como obstáculo à própria instauração das ciências, a não ser que os homens, já precavidos contra eles, se cuidem o mais que possam (BACON, 1973, p.26-27).
Bacon divide os ídolos em quatro gêneros, chamando-os de: Ídolos da Tribo; Ídolos da Caverna; Ídolos do Foro e Ídolos do Teatro. Para afastar esses ídolos, Bacon propõe a formação de noções e axiomas pela verdadeira indução como remédio apropriado, para tanto ele o diz necessário indicar em que consiste cada qual, já que os mesmos relacionam-se com a interpretação da natureza.
Os Ídolos da Tribo estão fundados na própria natureza humana. A tribo para Bacon corresponde à raça humana. Os ídolos surgem quando o homem perceber a realidade a partir de apenas uma perspectiva. Essa perspectiva, para Bacon, guarda analogia com a natureza humana e não com o universo, tornando-a incompleta e imparcial. Bacon cita como exemplo o conhecimento advindo dos sentidos, que são tomados como verdadeiros, mas para ele, o intelecto humano é como um espelho que reflete a imagem de forma distorcida, corrompida, não podendo ser considerado como verdadeiro.
Os Ídolos da caverna são os dos homens enquanto indivíduos. Bacon observa que cada pessoa tem sua caverna particular. Essa caverna intercepta e corrompe a luz da natureza. A partir daí se observa que o espírito humano é coisa vária, sujeita a várias perturbações. Essa disposição do espírito humano a buscar em seu mundo a verdade, afasta-o da verdade universal.
Os Ídolos do foro são os que advêm através das associações dos indivíduos do gênero humano entre si. Como as associações ocorrem através dos discursos e as palavras são cunhadas pelo vulgo, surgem às inadequações das mesmas diante do discurso. Algumas palavras podem ser usadas em sentidos diferentes por interlocutores e ambos concordarem aparentemente. Mas o modo como elas são impostas de maneira imprópria bloqueiam o intelecto, de forma tal que nem a correção de doutos seria capaz de restituir as coisas ao seu lugar, produzindo assim a perturbação do intelecto e conduzindo-o a inúmeras fantasias e controvérsias.
Os Ídolos do teatro são os que advêm pelas diversas doutrinas explicitadas ao espírito humano. Essas doutrinas são chamadas dessa forma por aparentar-se com fábulas, que falseiam a verdade como no teatro. Os ídolos do teatro são caracterizados como invenções acerca da verdade por meio dos sistemas filosóficos sem ter base na realidade propriamente dita. Fazem parte desses ídolos os princípios das ciências que, através da tradição, negligência e credulidade, entraram em vigor.
Os ídolos são responsáveis pelo não progresso da ciência. Segundo Bacon, quando o intelecto humano está assentado sobre uma convicção, ele arrasta tudo ao seu apoio e despreza o que não concorda com a mesma. Por isso propõe o caminho correto para interpretar a verdade, que é através de experimentos oportunos e adequados.
Nos aforismas que seguem as definições dos tipos de ídolos, Bacon desenvolve sobre a origem dos mesmos e faz algumas distinções entre eles. Essas distinções servem para melhor identifica-los e livrar-se deles. Segundo Bacon, “o intelecto deve ser liberado e expurgado de todos eles, de tal modo que o acesso ao reino do homem, que repousa sobre as ciências, possa aparecer-se ao acesso ao reino dos céus, ao qual não se permite entrar senão sob a figura de criança” (BACON, 1973, p.44).
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RESENHA SOBRE OS ÍDOLOS NA OBRA NOVUM ORGANUM DE FRANCIS BACON
A obra Novum Organum ou verdadeiras indicações acerca da interpretação da natureza, de Francis Bacon, é uma obra destinada a interpretação do conhecimento ou da natureza, através de uma nova visão da ciência fortalecida por uma educação do pensamento mobilizada pela experiência. Partindo do conhecimento humano como interprete da natureza, Bacon pretende que o mundo seja descoberto pela experimentação científica.
Apresentando sua obra em dois livros, ambos com o mesmo título Aforismos sobre a interpretação da natureza e o reino do homem, desenvolve sua argumentação pelo método do pensamento indutivo através de aforismos. Esses aforismos tem como objetivo o conhecimento da verdade de forma clara e manifesta.
Várias são as temáticas desenvolvidas nesses dois livros, entre elas se destaca a temática dos ídolos, que o autor começa por desenvolver no aforismo XXXI concluindo no aforismo LXX. Ele utiliza a ideia de ídolo como uma imagem falsa do conhecimento, produzindo noções equivocadas da verdade.
Os ídolos e noções falsas que ora ocupam o intelecto humano e nele se acham implantados não somente obstruem a ponto de ser difícil o acesso da verdade, como, mesmo depois de seu pórtico logrado e descerrado, poderão ressurgir como obstáculo à própria instauração das ciências, a não ser que os homens, já precavidos contra eles, se cuidem o mais que possam (BACON, 1973, p.26-27).
Bacon divide os ídolos em quatro gêneros, chamando-os de: Ídolos da Tribo; Ídolos da Caverna; Ídolos do Foro e Ídolos do Teatro. Para afastar esses ídolos, Bacon propõe a formação de noções e axiomas pela verdadeira indução como remédio apropriado, para tanto ele o diz necessário indicar em que consiste cada qual, já que os mesmos relacionam-se com a interpretação da natureza.
Os Ídolos da Tribo estão fundados na própria natureza humana. A tribo para Bacon corresponde à raça humana. Os ídolos surgem quando o homem perceber a realidade a partir de apenas uma perspectiva. Essa perspectiva, para Bacon, guarda analogia com a natureza humana e não com o universo, tornando-a incompleta e imparcial. Bacon cita como exemplo o conhecimento advindo dos sentidos, que são tomados como verdadeiros, mas para ele, o intelecto humano é como um espelho que reflete a imagem de forma distorcida, corrompida, não podendo ser considerado como verdadeiro.
Os Ídolos da caverna são os dos homens enquanto indivíduos. Bacon observa que cada pessoa tem sua caverna particular. Essa caverna intercepta e corrompe a luz da natureza. A partir daí se observa que o espírito humano é coisa vária, sujeita a várias perturbações. Essa disposição do espírito humano a buscar em seu mundo a verdade, afasta-o da verdade universal.
Os Ídolos do foro são os que advêm através das associações dos indivíduos do gênero humano entre si. Como as associações ocorrem através dos discursos e as palavras são cunhadas pelo vulgo, surgem às inadequações das mesmas diante do discurso. Algumas palavras podem ser usadas em sentidos diferentes por interlocutores e ambos concordarem aparentemente. Mas o modo como elas são impostas de maneira imprópria bloqueiam o intelecto, de forma tal que nem a correção de doutos seria capaz de restituir as coisas ao seu lugar, produzindo assim a perturbação do intelecto e conduzindo-o a inúmeras fantasias e controvérsias.
Os Ídolos do teatro são os que advêm pelas diversas doutrinas explicitadas ao espírito humano. Essas doutrinas são chamadas dessa forma por aparentar-se com fábulas, que falseiam a verdade como no teatro. Os ídolos do teatro são caracterizados como invenções acerca da verdade por meio dos sistemas filosóficos sem ter base na realidade propriamente dita. Fazem parte desses ídolos os princípios das ciências que, através da tradição, negligência e credulidade, entraram em vigor.
Os ídolos são responsáveis pelo não progresso da ciência. Segundo Bacon, quando o intelecto humano está assentado sobre uma convicção, ele arrasta tudo ao seu apoio e despreza o que não concorda com a mesma. Por isso propõe o caminho correto para interpretar a verdade, que é através de experimentos oportunos e adequados.
Nos aforismas que seguem as definições dos tipos de ídolos, Bacon desenvolve sobre a origem dos mesmos e faz algumas distinções entre eles. Essas distinções servem para melhor identifica-los e livrar-se deles. Segundo Bacon, “o intelecto deve ser liberado e expurgado de todos eles, de tal modo que o acesso ao reino do homem, que repousa sobre as ciências, possa aparecer-se ao acesso ao reino dos céus, ao qual não se permite entrar senão sob a figura de criança” (BACON, 1973, p.44).