O Brasil deve defender o Haiti dos EUA?
Por Mark Weisbrot
Muito tempo antes do terremoto, a situação do Haiti já era comparável à de muitos sem-teto nas ruas de grandes cidades dos EUA: pobres demais e negros demais para ter os mesmos direitos concretos que outros cidadãos.
Em 2002, quando um golpe militar que teve o apoio dos EUA afastou temporariamente o governo eleito da Venezuela, a maioria dos governos no hemisfério reagiu rapidamente e ajudou a forçar o retorno do governo democrático. Mas, dois anos mais tarde, quando o presidente haitiano democraticamente eleito, Jean-Bertrand Aristide, foi sequestrado pelos Estados Unidos e levado de avião para o exílio na África, a reação foi fraca.
Diferentemente dos dois séculos de saque e pilhagem do Haiti desde sua fundação graças a uma revolta de escravos em 1804, da ocupação brutal por fuzileiros navais dos EUA entre 1915 e 1934 e das incontáveis atrocidades cometidas sob ditaduras auxiliadas e apoiadas por Washington, o golpe de 2004 não pode ser relegado ao esquecimento, visto como nada mais que "história antiga". Aconteceu há apenas seis anos e é diretamente relacionado ao esforço de ajuda e reconstrução que o presidente Obama está propondo agora.
Os Estados Unidos, ao lado de Canadá e a França, conspiraram abertamente durante quatro anos para derrubar o governo eleito do Haiti, cortando quase toda a ajuda internacional ao país com o objetivo de destruir sua economia e torná-lo ingovernável. Eles conseguiram.
Para aqueles que se indagam por que não existem instituições governamentais haitianas para ajudar com os esforços de socorro e ajuda às vítimas do terremoto, essa é uma das grandes razões. Ou o porquê de haver 3 milhões de pessoas amontoadas na área atingida pelo terremoto.
A política dos EUA ao longo dos anos também ajudou a destruir a agricultura haitiana, por exemplo, ao forçar a importação de arroz americano subsidiado e eliminar milhares de plantadores de arroz haitianos.
O primeiro governo democrático de Aristide foi derrubado após apenas sete meses, em 1991, por oficiais militares e esquadrões da morte que, mais tarde, se descobriu estarem a soldo da Agência Central de Inteligência dos EUA. Agora Aristide quer retornar a seu país, algo que a maioria dos haitianos reivindica desde sua derrubada.
Mas os EUA não o querem ali. E o governo Preval, que é completamente dependente de Washington, decidiu que o partido de Aristide -o maior do Haiti- não será autorizado a concorrer nas próximas eleições (previstas originalmente para fevereiro).
O medo que Washington tem da democracia no Haiti talvez explique o porquê de os Estados Unidos agora estarem enviando 10 mil soldados e priorizando a "segurança", em lugar das necessidades de vida ou morte dos milhares de pessoas que precisam de atendimento médico urgente.
Na manhã de domingo, o mundialmente renomado grupo humanitário Médicos Sem Fronteiras queixou-se que um avião transportando sua unidade hospitalar móvel foi obrigado pelos militares americanos a mudar de rota, passando primeiramente pela República Dominicana. Isso custaria 24 horas cruciais e um número desconhecido de vidas.
Essa ocupação militar por tropas dos EUA vai suscitar outras preocupações no hemisfério, dependendo de quanto tempo elas permanecerem -assim modo como a ampliação recente da presença militar dos Estados Unidos na Colômbia vem sendo recebida com insatisfação e desconfiança consideráveis.
Organizações não governamentais vêm levantando outras questões sobre a reconstrução proposta: compreensivelmente, querem que a dívida remanescente do Haiti seja cancelada e que sejam feitas doações ao país, e não empréstimos (o FMI propôs um empréstimo de US$ 100 milhões). As necessidades da reconstrução chegarão a bilhões de dólares.
Será que Washington vai incentivar o estabelecimento de um governo que funcione? Ou vai impedi-lo, canalizando a assistência por meio de ONGs e assumindo ele próprio várias outras funções, devido a sua oposição de longa data à autonomia do Haiti?
O Brasil não segue a linha de Washington na América do Sul nem, mais recentemente, o fez em Honduras, "quintal" dos Estados Unidos -onde o governo brasileiro defendeu em vão a restauração da democracia após o golpe de 28 de junho, e a administração Obama, não.
Por que não defender a democracia também para o Haiti, mesmo que Washington seja contra?
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Mark Weisbrot, doutor em economia pela Universidade de Michigan, é codiretor do Centro de Pesquisas Econômicas e Políticas, em Washington. Tradução de Clara Allain.
Comments
Sem dúvida que sim ... e está ESCALADO PARA ISTO ... e , aí veio este maldito terremoto ...
Os imperialistas americanos estão se aproveitando para criar uma nova base , fora de suas fronteiras ...
Guiantánamo , desse jeito , nunca será devolvida !
25.01 - O Brasil estava fazendo um ótimo trabalho ... vide a médca ZILDA ARNS ... e, agora chegam os "pobres" soldados da quadrilha do Bush , e seus falcões ...
Pobre Haiti !
deveria mas não tem força polÃtica e militar pra isso
A ONU E QUEM DEVE
Com certeza! Não só Brasil como todo o e qualquer paÃs verdadeiramente democrático.
O Brasil tem que se defender de tudo e de todos. O Haiti daqui a pouco terá como se defender porque o mundo todo quer a sua reconstrução.
Sua resposta:
DEVIA MESMO, POR ISSO A IRRITAÃÃO DOS DIRIGENTES DE VÃRIOS PAÃSES, QUE ESTÃO DENUNCIANDO O ENVIO DE TROPAS PRO HAITI.
ELES PRECISAM DE AJUDA HUMANITÃRIA, E NÃO DE SOLDADOS.
MAS ISSO SE DÃ PORQUE OS EUA NÃO QUEREM PERDER A MAMATA.
O ÃLTIMO PRESIDENTE DE LÃ QUER REGRESSAR. ELE ESTÃ NA ÃFRICA DO SUL EXILADO DESDE QUE OS ESTADOS UNIDOS OS TIRARAM A FORÃA DO HAITI.
à ESTA A DEMOCRACIA AMERICANA!?!?!?
Não gosto da forma em que fazes a pergunta.
Vou dar-te uma resposta vendo a pergunta desde outro aspecto:
"O Brasil, e todos os paÃses, devem ajudar o Haiti."
SIM
Os Nortes Americanos estao querendo aos poucos tentando tirar o Exercito Brasilero la pra tentar tomar todo territorio.
O exercito Americano nao serve para fazer Missoes de PAz , eles so servem para fazer missoes de Matança. O Brasil sim, e capaz de fazer o PAZ.
claro , vamos mandar o lula a dilma e todos do pt pra governarem o haiti , assim quem sabe esse pais vai pra frente...
Quem defender o Haiti de quem?