Arruda e as revoluções que faltam?
Por Carlos Alberto Di Franco (*)
Dois meses e meio após a descoberta do mais explícito caso de corrupção no andar de cima da classe política, a Polícia Federal recolheu à sua carceragem, em Brasília, o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda. Na História do País, foi a primeira prisão de um governador no exercício do cargo. Arruda teve a prisão decretada pelo Superior Tribunal de Justiça, por 12 votos a 2, após ser acusado de tentar subornar uma testemunha. O governador afastado passou o carnaval preso. No momento em que escrevo este artigo, o previsível recurso ao habeas corpus ainda não atingiu a cidadania com mais uma ducha de água fria. O presidente Lula, segundo um assessor, ficou abalado e lamentou que "o escândalo tenha chegado a esse ponto" - desfecho que, em sua avaliação, não contribui para a "consciência política nacional".
Mas, ao contrário do que pensa o presidente da República, sempre tão sensível e solidário com os que são apanhados com a boca na botija, a prisão de Arruda contribui, e muito, para a "consciência política nacional". O que conspira contra a cidadania é a impunidade que cresce à sombra da leniência e da governança pragmática.
Corrupção endêmica e percepção social da impunidade compõem o ambiente propício à instalação de um quadro de desencanto cívico. Alguns, equivocadamente, vislumbram uma relação de causa e efeito entre corrupção e democracia. Outros, perigosamente desmemoriados, têm saudade de um passado autoritário de triste memória. Ambos, reféns do desalento, sinalizam um risco que não deve ser subestimado: a utopia autoritária.
O Brasil, ao contrário da Venezuela, tem instituições razoavelmente sólidas, embora parcela significativa da sociedade já comece a questionar a validade de um dos pilares da democracia, o Congresso Nacional. O descrédito generalizado, sobretudo dos parlamentares, captado em inúmeras pesquisas de opinião, é preocupante. Daí o estratégico veneno da "democracia direta", suavemente destilado no 3º Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3). Tal como Hugo Chávez, os estrategistas do Planalto propõem a valorização de instrumentos como "lei de iniciativa popular, referendo, veto popular e plebiscito". É a instalação do populismo autoritário, uma fachada de democracia que se apoia em três colunas: fisiologismo político, currais eleitorais e autoritarismo ideológico.
O fisiologismo político é responsável por alianças que são monumentos erguidos à incoerência e ao cinismo. Quando vemos Lula, José Sarney, Fernando Collor e Renan Calheiros, só para citar exemplos mais vistosos, no mesmo palanque, paira no ar a pergunta óbvia: o que une firmemente aqueles que estiveram em campos tão opostos? Interesse. Só interesse. Os fisiologistas têm carta branca para gozar as benesses do poder. Os ideológicos, lenientes e tolerantes com o apetite dos fisiológicos, recebem deles o passaporte parlamentar para avançar no seu projeto autoritário.
A arquitetura democrática de fachada recebe a certidão do "habite-se" na força cega dos currais eleitorais. A um projeto autoritário o que menos interessa é gente educada, gente que pense. Educação de qualidade, nem falemos. O sistema educacional brasileiro é de péssima qualidade. Multiplicam-se universidades, mas não se formam cidadãos: homens e mulheres livres, bem formados, capazes de desenvolver seu próprio pensamento, conscientes de seus direitos e de seus deveres. Há, sim, um apagão do espírito crítico. Desaba o Brasil na banguela de uma unanimidade que, como dizia Nelson Rodrigues, é sempre perigosamente burra. Nós, jornalistas, precisamos trazer os candidatos para o terreno das verdadeiras discussões. É preciso saber o que farão, não com chavões ou com lantejoulas do marketing político, mas com propostas concretas em três campos: educação, infraestrutura e ética.
A competitividade global reclama crescentemente gente bem formada. Quando comparamos a revolução educacional coreana com a desqualificação da nossa educação, dá vontade de chorar. Governos, independentemente de seu colorido partidário, sempre exibem números chamativos. E daí? Educação não é prédio. E muito menos galpão. É muito mais. É projeto pedagógico. É exigência. É liberdade. É humanismo. É aposta na formação do cidadão integral. O Brasil pode morrer na praia. Só a educação de qualidade será capaz de preparar o Brasil para o grande salto. Deixarmos de ser um país fundamentalmente exportador de commodities para entrar, efetivamente, no campo da produção de bens industrializados.
Para isso, no entanto, é preciso menos discurso sobre o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e mais investimento real em infraestrutura. É preciso fazer reportagem. Ir ver o que existe e o que não existe. O que foi feito e o que é só publicidade. Ver e contar. É o nosso papel. É a nossa missão. Nós, jornalistas, sucumbimos com frequência ao declaratório. Registramos, com destaque, a euforia presidencial com a formidável escolha do Rio de Janeir
Update:
Comments
Oi Tolinho,
Excelente texto do Carlos Alb erto e espero, de verdade, que os jornalistas cumpram o seu papel e nos informem a verdade sempre.
O povo Brasileiro está cansado de ser enrolado por estes politicos e precisaremos de toda ajuda possível para que não nos inflijam este malfadado totalitarismo...pois seria o fim para muitos de nós...isto ocasionaria uma revolução como nunca vista antes neste país...
Um abraço,
Se mais brasileiros pensassem assim, teriamos um pais de primeiro mundo.
parabens.
Excelente texto!
Bjs
à preciso que o povo saia das amarras da ignorância e deixe de ser gado nas mãos das velhas oligarquias brasileiras e das novas oligarquias que tem surgido. à preciso que a SOCIEDADE CIVIL ORGANIZADA deixe de olhar para o próprio umbigo se admirando e sentindo-se como os melhores e mais inteligentes e deixe que o povão participe também do embate, mesmo que estejam se expressando mal, deixe que atuem, que participem do cenário não como coadjuvantes e sim como atores principais, aà sim, será bom comemorar as diferenças sem um impor o seu estilo, o seu jeito ao outro, e, sim colaborar um para com o outro.
MOBILIZAÃÃO E ORGANIZAÃÃO SEM IMPOSIÃÃO, tem de ser a atuação alternativa.
Há tempos estou dizendo que já passou da hora dos Brasileiros se revoltarem e no exercÃcio de sua "Cidadania" cobrar dos "poderes" que nos representam medidas para que os corruptos que encontram-se no governo Lula/PT e sua quadrilha sejam punidos devidamente, caso isto não ocorra devemos nós mesmos "Brasileiros Patriotas" defenderem nossa nação Brasileira antes que seja tarde demais...
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