COTA PARA NEGROS MOBILIZA A SÃO PAULO FASHION WEEK.?

Habitualmente afastada dos problemas sociais, a moda brasileira --quem diria-- se tornou nos últimos dias o palco de uma batalha contra a discriminação dos negros no país. As cenas principais dessa disputa deverão ser travadas na SPFW (São Paulo Fashion Week), cujos desfiles da temporada verão 2009/10 começam nesta quarta-feira (17).

Conforme um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), assinado há menos de um mês entre o Ministério Público e a organização do evento, 10% dos modelos de cada desfile devem ser negros, afrodescendentes ou indígenas. [...]

Quem vai colocar mais lenha na fogueira é a associação franciscana Educafro (Educação e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes), que está organizando um desfile-manifesto no parque Ibirapuera, onde a semana de moda é realizada.

A manifestação prevê uma passarela só com modelos negros, embaixo da marquise do parque, ao lado do MAM (Museu de Arte Moderna). [...]

Relatório final

A organização da SPFW poderá receber multa de R$ 250 mil apenas se não forem cumpridas as cláusulas do termo assinado com o Ministério Público que determinam que a SPFW deve sugerir às grifes "a manutenção de um mínimo necessário de 10% de modelos entre negros, ou afrodescendentes, ou indígenas". Até 30 dias após o fim da temporada, o evento terá de elaborar uma relação completa dos modelos que desfilaram, apontando o nome dos "que se inserem no critério", como diz o TAC.

É possível justificar o descumprimento: o Ministério Público aceita, por exemplo, que a alguns temas de desfiles não cabe a participação de negros.

A diretora de casting Roberta Marzolla, responsável pela seleção de modelos de Alexandre Herchcovitch, André Lima, Ronaldo Fraga e Wilson Ranieri, acredita que a medida será respeitada. "Acho que as marcas vão cumprir a cota", afirma.

Segundo Marzolla, quatro negras participarão do desfile de Herchcovitch, que tem um casting com 30 modelos. Para o desfile de Ronaldo Fraga, cinco negros e uma indígena passaram pelo teste, que prevê um time de quase 40 modelos.

Os desfiles da SPFW já revelaram belas modelos negras, como Gracie Carvalho e Ana Bela. Agora, é possível que a "cota" mostre ao público mais algumas new faces, como a baiana Indira Carvalho (da agência 40 Graus), a paraibana Ismênia (da EG Models) e a paulista Jaine (da Way Model).

Mundinho da Oscar Freire

[...] "Estamos sempre em busca de mais modelos, independentemente da raça. Não fomos atrás de mais negros", afirma o diretor da Way Model, Anderson Baumgartner. Para ele, as negras são pouco numerosas em desfiles porque não têm o biotipo desejado pelos estilistas. "Elas são mais gostosonas; muitas têm um bumbum um pouco maior", justifica.

O estilista e empresário Alberto Hiar, da Cavalera, tem outra explicação para o baixo índice de negros na SPFW. "Os afrodescendentes não estão nos restaurantes e nos lugares onde os olheiros estão. Você vê uma quantidade muito pequena deles na Oscar Freire", diz.

Para a estilista Clô Orozco, é antiga a "despreocupação" das agências em apresentar modelos negros. "Eu dependo do que eles [os agentes] me trazem", diz. "Acho que deveriam ir para lugares diferentes, por exemplo, a colégios da periferia."

"O problema é que o mundinho da moda está restrito à Oscar Freire", desfere Hélder Dias Araújo, dono da HDA Models, agência só de negros, que até agora não conseguiu emplacar nenhum de seus modelos nesta edição do evento.

1)Aponte semelhanças entre a política da cotas no ensino superior e no mundo da moda.

2)O predomínio de modelos louras e magras nas passarelas resulta de discriminação das mulatas e negras ou de uma questão de biótipo? Justifique a sua resposta.

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