Documentário é um género cinematográfico que se caracteriza pelo compromisso com a exploração da realidade. Mas dessa afirmação não se deve deduzir que ele represente a realidade «tal como ela é». O documentário, assim como o cinema de ficção, é uma representação parcial e subjectiva da realidade.
O filme documentário foi pela primeira vez teorizado por Dziga Vertov (1896-1954), que desenvolve o conceito de «cinema-verdade» (kino-pravda), defendendo a ideia da fiabilidade do olho da câmara, a seu ver mais fiel à realidade que o olho humano - ideia ilustrada pelo filme que realizou Cine-Olho (1924) -, visto ser uma reprodução mecânica do visível (Ver: cinema directo).
O termo documentário é aceite em 1879 pelo dicionário francês Littré como adjectivo referente a algo «que tem carácter de documento». Atualmente, há uma série de estudos cujos esforços se dirigem no sentido de mostar que há uma indefinição de fronteiras entre documentário e cinema de ficção.
4
Tipos de documentário
A produção de documentários se desenvolveu de acordo com os avanços tecnológicos e
o momento histórico no qual o filme está inserido. NICHOLS (2005) apresenta seis
modos ou tipos de documentário. Esta divisão serve para perceber as diferentes formas
de construção do documentário, mas não são excludentes: elas podem aparecer no
mesmo filme de acordo com o estilo do cineasta.
O modo poético segue os ideais modernistas de representação da realidade através da
fragmentação. Assim, não há preocupação com montagem linear, argumentação,
localização no tempo e espaço ou apresentação aprofundada de atores sociais. Esta
forma utiliza o mundo histórico como matéria prima para dar “[...] integridade formal e
estética ao filme”. (NICHOLS: 2005, 141)
O modo expositivo é um dos mais difundidos e o que o público mais reconhece como
documentário devido ao uso constante de seus elementos em noticiários de TV. Neste
modo, os fragmentos do mundo histórico são concatenados numa estrutura mais retórica
e argumentativa. A perspectiva do filme é dada pelo comentário feito em voz ‘off’ e as
imagens limitam-se a confirmar a argumentação narrada.
O modo observativo ganha força com câmeras portáteis e propõe mostrar, parafraseando
Nelson Rodrigues, “a vida como ela é”. Em outras palavras, o cineasta busca captar os
acontecimentos sem interferir no seu processo. A falta de legendas e de narrador
justifica-se para que o público veja o que está acontecendo, e não a interpretação do
cineasta sobre o fato.
O modo participativo ‘coloca’ o cineasta no filme, ou seja, sua participação e
conscientização de sua interferência na realidade dos atores sociais – pois também se
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
XXX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Santos – 29 de agosto a 2 de setembro de 2007
torna um ator social – ficam evidentes para o público. Com isto, o ponto de vista do
cineasta fica mais evidente. O uso de entrevistas dá variedade aos assuntos.
O modo reflexivo preocupa-se com o processo de negociação entre cineasta e
espectador, indagando as responsabilidades e conseqüências da produção do
documentário para cineasta, atores sociais e público. Desta forma, “O lema segundo o
qual um documentário só é bom quando é convincente é o que o modo reflexivo do
documentário questiona.” (NICHOLS, 2005: 163)
O modo performático também levanta questões sobre o que é conhecimento, porém a
subjetividade tem peso maior do que a construção de argumento lógico e linear. A
combinação do real com o imaginário de acordo com a complexidade emocional do
cineasta torna muitas vezes o documentário autobiográfico e paradoxal, visto que “os
documentários recentes tentam representar uma subjetividade social que une o geral ao
particular, o individual ao coletivo e o político ao pessoal.” (Idem, ibidem: 171)
Na fronteira dessa indefinição, definindo um género híbrido, surge no início do século o termo docuficção. A etnoficção é umas das práticas nobres deste género.
Comments
Documentário é um género cinematográfico que se caracteriza pelo compromisso com a exploração da realidade. Mas dessa afirmação não se deve deduzir que ele represente a realidade «tal como ela é». O documentário, assim como o cinema de ficção, é uma representação parcial e subjectiva da realidade.
O filme documentário foi pela primeira vez teorizado por Dziga Vertov (1896-1954), que desenvolve o conceito de «cinema-verdade» (kino-pravda), defendendo a ideia da fiabilidade do olho da câmara, a seu ver mais fiel à realidade que o olho humano - ideia ilustrada pelo filme que realizou Cine-Olho (1924) -, visto ser uma reprodução mecânica do visível (Ver: cinema directo).
O termo documentário é aceite em 1879 pelo dicionário francês Littré como adjectivo referente a algo «que tem carácter de documento». Atualmente, há uma série de estudos cujos esforços se dirigem no sentido de mostar que há uma indefinição de fronteiras entre documentário e cinema de ficção.
4
Tipos de documentário
A produção de documentários se desenvolveu de acordo com os avanços tecnológicos e
o momento histórico no qual o filme está inserido. NICHOLS (2005) apresenta seis
modos ou tipos de documentário. Esta divisão serve para perceber as diferentes formas
de construção do documentário, mas não são excludentes: elas podem aparecer no
mesmo filme de acordo com o estilo do cineasta.
O modo poético segue os ideais modernistas de representação da realidade através da
fragmentação. Assim, não há preocupação com montagem linear, argumentação,
localização no tempo e espaço ou apresentação aprofundada de atores sociais. Esta
forma utiliza o mundo histórico como matéria prima para dar “[...] integridade formal e
estética ao filme”. (NICHOLS: 2005, 141)
O modo expositivo é um dos mais difundidos e o que o público mais reconhece como
documentário devido ao uso constante de seus elementos em noticiários de TV. Neste
modo, os fragmentos do mundo histórico são concatenados numa estrutura mais retórica
e argumentativa. A perspectiva do filme é dada pelo comentário feito em voz ‘off’ e as
imagens limitam-se a confirmar a argumentação narrada.
O modo observativo ganha força com câmeras portáteis e propõe mostrar, parafraseando
Nelson Rodrigues, “a vida como ela é”. Em outras palavras, o cineasta busca captar os
acontecimentos sem interferir no seu processo. A falta de legendas e de narrador
justifica-se para que o público veja o que está acontecendo, e não a interpretação do
cineasta sobre o fato.
O modo participativo ‘coloca’ o cineasta no filme, ou seja, sua participação e
conscientização de sua interferência na realidade dos atores sociais – pois também se
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
XXX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Santos – 29 de agosto a 2 de setembro de 2007
torna um ator social – ficam evidentes para o público. Com isto, o ponto de vista do
cineasta fica mais evidente. O uso de entrevistas dá variedade aos assuntos.
O modo reflexivo preocupa-se com o processo de negociação entre cineasta e
espectador, indagando as responsabilidades e conseqüências da produção do
documentário para cineasta, atores sociais e público. Desta forma, “O lema segundo o
qual um documentário só é bom quando é convincente é o que o modo reflexivo do
documentário questiona.” (NICHOLS, 2005: 163)
O modo performático também levanta questões sobre o que é conhecimento, porém a
subjetividade tem peso maior do que a construção de argumento lógico e linear. A
combinação do real com o imaginário de acordo com a complexidade emocional do
cineasta torna muitas vezes o documentário autobiográfico e paradoxal, visto que “os
documentários recentes tentam representar uma subjetividade social que une o geral ao
particular, o individual ao coletivo e o político ao pessoal.” (Idem, ibidem: 171)
Na fronteira dessa indefinição, definindo um género híbrido, surge no início do século o termo docuficção. A etnoficção é umas das práticas nobres deste género.
Documentário é um género cinematográfico que se caracteriza pelo compromisso com a exploração da realidade. Mas dessa afirmação não se deve deduzir que ele represente a realidade «tal como ela é». O documentário, assim como o cinema de ficção, é uma representação parcial e subjectiva da realidade.